Numa história adaptada com muita fidelidade do livro do escritor Dennis Lehane, o diretor Clint Eastwood compôs um filme com ecos shakespearianos, em torno da tragédia que se abate sobre Jimmy Markum (Sean Penn), depois do assassinato brutal de sua filha de 19 anos (Emmy Rossum). O acontecimento reaproxima três amigos de infância que cresceram na mesma vizinhança, o próprio Jimmy, o policial que investiga o caso, Sean Devine (Kevin Bacon), e um vizinho, Dave Boyle (Tim Robbins) - que pode ter cometido o crime.
Há um incidente decisivo na vida destes três homens, que ficou sepultado em seu passado mas tem reflexos inevitáveis no presente. Quando tinham dez anos, os três meninos brincavam na rua e decidiram gravar seus nomes no cimento fresco de uma calçada. Jimmy e Sean levaram adiante a brincadeira sem sustos. Mas Dave, quando havia inscrito apenas duas letras de seu nome no chão, foi pilhado em flagrante por dois homens de uniforme. Supostos policiais, os dois o levaram embora em seu carro, diante dos olhos dos dois amigos, que correram para casa. Dave só voltou quatro dias depois, aparentemente sem danos. Mas nunca mais foi o mesmo.
A grande perícia dos atores em extrair as camadas de seus personagens desvia o filme do lado policial para o lado humano e também para a tragédia que vive latente em relações, conflitos, acasos e malentendidos. Ao lançar paulatinamente sobre seu tabuleiro dramático, extremamente bem-construído, as peças que preparam novos dramas, Clint mostra o melhor de sua forma como diretor, iluminando um elenco verdadeiramente em estado de graça. Uma obra autoral, sem dúvida, em que Clint assina inclusive a música do filme. Mesmo em papéis secundários, brilham duas atrizes, Marsha Gay Hardem e Laura Linney - que, perto do final, tem uma fala digna de Lady Macbeth.
