
Alysson Oliveira
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Não é preciso muito das quase 700 páginas de Nix, do estreante Nathan Hill, para perceber que se trata de um grande romance – não só pela quantidade de páginas. Há de tudo entre uma capa e outra – desde protestos políticos (fortes e outros tolos), vício em realidade virtual, mercado editorial até chegar em consumismo. É claro que entre uma coisa e outra o autor joga umas obviedades, mas ele faz isso com tanta graça e humor que é difícil não fingir que é novidade.
Nix são, segundo o romance, no folclore Nórdico espíritos que tomam formas distintas e perseguem pessoas por toda a vida. Também são qualquer coisa que você tenha amado e um dia desaparece partindo seu coração. Há os dois tipos na narrativa – ao menos imaginados pelos personagens.
O livro começa com um pequeno incidente que ganha grandes proporções. Uma senhora, veterana dos anos de 1960 (como saberemos depois), joga uma bola de papel na cabeça de um governador, e candidato a candidato à presidência dos EUA. O gesto – talvez pessoal – ganha tons políticos e um grande processo é instaurado, e seu passado destrocado na mídia: ex-hippie, presa por prostituição, e mãe que abandonou o filho em 1988. Este agora é um professor universitário frustrado, que passa horas jogando na internet, e tem mais amigos virtuais do que reais. No trabalho enfrenta a perseguição de uma aluna, que tenta reverter o caso quando ela é acusada de plágio, acusando o professor de abuso emocional.
Hill tem a habilidade de construir dois momentos históricos com tintas precisas, e fazer um trajeto de como os ideias dos anos de 1960 se transformaram nisso em que vivemos. Seu percurso é seguro, carregado na ideia do pop, mas extremamente político – especialmente quando evoca os protestos de Chicago daquela época (também presentes no them, de Joyce Carol Oates, entre outros). Nesse sentindo, The Hill é um romance histórico, sobre a história já concluída (o passado) e aquela que está acontecendo (o presente). O presente é o de 2011, do Occupy Wall Street (há uma cena excelentemente cômica envolvendo um protesto).
Quando Faye reaparece na vida de seu filho, Samuel Andresen-Anderson, ele não há vê há mais de duas décadas, e está sendo cobrado por seu editor por um romance, pelo qual foi pago (comprou uma casa com dinheiro), e até hoje não entregou o livro. Para não perder todo o pouco que tem, ele aceita fazer uma biografia da mãe (o editor avisa, só precisa escrever ¼ o restante já está pronto por uma equipe de ghostwriters, e deverá ser lançado antes da campanha presidencial, para ajudar ao governador), na qual deverá expor toda a “verdade” sobre sua mãe – em outras palavras, destruí-la, porque nada vende mais do que lavagem de roupa suja.
The Nix dá tempo o suficiente para construir o presente e os passados (a infância de Samuel e a juventude de Faye) , e também seus personagens – desde a dupla de mãe e filho, até coadjuvantes, como o colega de Samuel viciado em um jogo virtual que há tempos não sai de casa, e isso tem um desenrolar catastrófico e cômico quando ele decide parar.
A contraposição entre dois momentos do passado (final dos anos de 1960 e dos anos de 1980 e presente) acompanha o movimento da história e a forma como essa interfere na vida das personagens e as molda. Hill desponta como um escritor a se prestar atenção dono de um talento ímpar, e para quem sempre está a procura do Grande Romance Americano, Nix é mais um forte candidato.
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