Com esta comédia dramática, o diretor Sergio Rezende completa uma volta ao intimismo, depois de uma série de filmes apaixonados por aventureiros - O Homem da Capa Preta (1986), Lamarca(1994) e Mauá, O Imperador e o Rei(1999) - e superproduções, como A Guerra de Canudos (1997). Sua primeira incursão nessa escala minimalista, Quase Nada (2000), foi largamente bem-sucedida, num drama despojado e intenso. Já nesta segunda, a tentativa extraviou-se do rumo.Veterano no décimo filme, Rezende embaralhou os gêneros - drama, comédia, musical. Coisa que Jorge Furtado fez com muita propriedade em O Homem que Copiava. E assim conta a história de Felício (Juca de Oliveira), comediante aposentado que acorda um dia com a notícia de que sua ex-mulher, grande amor de sua vida, Paloma (Drica Moraes), morreu. A notícia desencadeia um processo de reavivamento de lembranças e de fantasmas - um deles, literal, o de Mandarim (José Wilker).A partir daí, desencadeia-se a revelação de que o antigo parceiro e a mulher, mortos, tiveram um caso, motivo do fim do casamento de Felício e Paloma. Remexendo no baú de suas emoções, Felício decide dar uma reviravolta na vida - quer retomar a carreira e, para isso, precisa de um novo parceiro. Parte de mala e cuia para o Ceará, onde o amigo radialista, Jajá (José Dumont), se encarregará de ajudá-lo a convocar os candidatos. Uma trama paralela se instala quando Felício encontra a jovem Estela (Regiane Alves), uma bela modelo por quem ele nutre a obsessão de que pode ser sua filha - que ele nunca viu. Há diversos pontos de contato entre este filme e outra estréia nacional recente, Benjamim, de Monique Gardenberg. Um exemplo é a presença de um velho protagonista obcecado pelos fantasmas do passado, pela lembrança de uma mulher e a procura de recuperar os erros antigos. Uma situação que vira quase uma metáfora de um certo núcleo do cinema nacional, que parece estar à procura de lembrar como era mesmo a receita de fazer um bom filme intimista. Uma receita, ao que parece, temporariamente perdida. Nem Onde Anda Você? nem Benjamim acertam nas medidas, por mais que possam estar repletos de boas intenções. Não têm o ritmo, não têm o clima. E Onde Anda Você? tem, além do mais, um travo inapelavelmente saudosista. Mas não adianta invocar Federico Fellini, Mario Monicelli ou as Danças Húngaras de Brahms, como faz Rezende. Não basta invocar os nomes dos deuses para que a mágica se instale. Tudo o que o diretor acerta no minimalismo e precisão dramáticas em Quase Nada, derrama aqui em redundâncias que não conduzem a lugar algum. Falta esmero nos diálogos, aperfeiçoamento nas situações dramáticas. O filme gira sobre si mesmo e não aproveita nem mesmo alguns de seus indiscutíveis trunfos, caso do excelente Aramis Trindade, que entra no filme tarde demais e o ilumina, ainda que brevemente.