21/03/2025
Drama

O Terminal

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Existem temas que são quase uma constante na obra do cineasta Steven Spielberg, como a figura paterna e a tentativa física e moral do retorno ao lar - ou a um lugar mais seguro (como em A Lista de Schindler). E embora possa parecer improvável, O Terminal tem muito a ver com E.T. - O Extraterrestre ao contrário do que possa parecer. Em ambos os casos, os personagens centrais estão em um ambiente inóspito e impossibilitados de voltar para casa ou sequer entrar em contato com seus familiares. Dessa forma, é até cômico o momento em que o personagem de Tom Hanks se aproxima de um orelhão no aeroporto e balbucia "Phone home" em seu inglês precário

Assim que toca o solo norte-americano, em Nova York, Viktor Navorski (Hanks) descobre que houve um golpe político em seu país, uma fictícia república da Europa Oriental, e ele está em uma condição muito peculiar, conforme é informado pelo oficial de segurança do aeroporto, Frank Dixon (o sempre eficiente Stanley Tucci). Viktor não pode voltar para casa, mas também não pode pedir asilo político ao governo norte-americano, até que este reconheça o novo regime do país natal.

Dessa forma, Dixon diz que Viktor não poderá deixar as dependências do aeroporto. O oficial acredita que é apenas questão de tempo para que o 'prisioneiro' escape do aeroporto, entre em Nova York e se torne problema de outra agência de segurança. Mas não é este o caso, o apátrida quer entrar legalmente nos EUA, por razões que ele não conta, mas que podem ter a ver com uma latinha de amendoins que guarda como se fosse a própria vida.

Confinado à área do aeroporto, Viktor transforma as instalações em seu próprio lar. Usando o terminal como um microcosmo, Spielberg e seu time de roteiristas criam uma dinâmica entre Viktor, funcionários e transeuntes que serve como uma metáfora para a vida e os relacionamentos humanos.

Praticamente incapaz de se expressar em inglês, Viktor se torna um observador - algo bem parecido com o mesmo confinamento de Hanks em Náufrago. Bem mais à vontade do que em seu estranho e malfadado papel em Matador de Velhinhas, o ator tem a oportunidade de desenvolver em algumas cenas uma comédia física como em Quero Ser Grande.

A idéia, inspirada em um caso real de um expatriado iraniano no aeroporto Charles de Gaulle na França, é de Andrew Niccol, mesmo roteirista de O Show de Truman. E, não por acaso, os dois filmes possuem muita semelhança. Ambos dissecam o confinamento e suas conseqüências na vida do indivíduo. Tanto em O Terminal, como em Truman, há câmeras por todos os lados, e, muitas vezes, o que vemos são o que esses aparelhos registraram - talvez uma forma que Niccol tenha encontrado para dizer que a realidade é manipulável, um tema, aliás, sempre recorrente em sua obra (como em S1mone, que ele escreveu e dirigiu).

O maior atrativo do filme é a bela fotografia de Janusz Kaminski, constante colaborador de Spielberg. Ele satura os tons e é ultra-clean. Bem diferente da maior parte do trabalho desse fotógrafo, em imagens escuras, tons sombrios - O Terminal é claro, brilhante. É como se aquele simples aeroporto abrisse os olhos de Viktor - e de todos - para um novo mundo.

Recentemente, no Festival de Veneza, Hanks e Spielberg negaram qualquer temática ou crítica da política norte-americana em relação à imigração como um sub-tema de O Terminal. O filme deixa de ser um sutíl estudo de personagem para cair na mesmice Hollywoodiana com um sentimentalismo forçado e desnecessário.

É meramente um passatempo, que não tem muitos atrativos para agradar às grande platéias - principalmente aquelas obcecadas com filmes de gênero. O Terminal não é uma comédia, nem só um drama. O romance entre o personagem de Hanks e o da bela Catherine Zeta-Jones, que faz uma comissária de bordo, insinua-se, mas nunca acontece. Dessa forma, O Terminal vai de um lado para outro dando a sensação de que o filme fica taxeando o tempo todo, e nunca decola.
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