Os personagens do diretor padecem de uma sede assombrosa de afeto, companhia, sentido, perspectivas e isto se traduz num cinema que reproduz cenas cotidianas e urbanas num ritmo exasperantemente lento. As criaturas deste mundo do diretor malaio radicado em Taiwan mal se falam, se esbarram mais do que se tocam e desperdiçam suas vidas em trabalhos rotineiros onde não sentem nenhuma satisfação.
Para tecer esta sociologia minimalista do mal-estar da civilização, bastam três personagens: um rapaz vendedor de urnas funerárias que tenta o suicídio com um canivete suíço, uma jovem corretora de imóveis que passa o tempo entre seu carro e os apartamentos vazios que tenta vender e um vendedor de roupas nas calçadas de Taipei.
O sexo é a última forma de contato ainda não banida do convívio de pessoas tão destituídas de vínculos que poderiam desaparecer a qualquer minuto sem deixar vestígios, de tão desindividualizadas que se tornaram. Mas mesmo este sexo é contaminado pela falta de transcendência de tudo o mais, travado por malentendidos e desejos reprimidos, como o do vendedor de urnas que espia o casal escondido debaixo de sua cama.
Quase todas as poucas conversas são pelo telefone, tratando de banalidades comerciais ou trivialidades do dia-a-dia que não arranham nem a superfície do enorme bloqueio que impede as pessoas de qualquer forma de comunicação genuína. Que essa incomunicabilidade aconteça num mundo poderosamente high-tech, repleto de elevadores, computadores e celulares, é apenas um sinal de que a tecnologia não trabalha em proveito da felicidade humana.