27/03/2025
Drama

Vive l'Amour

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A aridez quase sem diálogos dos filmes de Tsai Ming-liang contrasta com a exibição caudalosa de água que costuma aparecer em suas obras, como O Rio, premiado no Festival de Berlim/97, e esta sua produção anterior, Vive L'Amour, vencedora do Leão de Ouro no Festival de Veneza/94.

Os personagens do diretor padecem de uma sede assombrosa de afeto, companhia, sentido, perspectivas e isto se traduz num cinema que reproduz cenas cotidianas e urbanas num ritmo exasperantemente lento. As criaturas deste mundo do diretor malaio radicado em Taiwan mal se falam, se esbarram mais do que se tocam e desperdiçam suas vidas em trabalhos rotineiros onde não sentem nenhuma satisfação.

Para tecer esta sociologia minimalista do mal-estar da civilização, bastam três personagens: um rapaz vendedor de urnas funerárias que tenta o suicídio com um canivete suíço, uma jovem corretora de imóveis que passa o tempo entre seu carro e os apartamentos vazios que tenta vender e um vendedor de roupas nas calçadas de Taipei.

O sexo é a última forma de contato ainda não banida do convívio de pessoas tão destituídas de vínculos que poderiam desaparecer a qualquer minuto sem deixar vestígios, de tão desindividualizadas que se tornaram. Mas mesmo este sexo é contaminado pela falta de transcendência de tudo o mais, travado por malentendidos e desejos reprimidos, como o do vendedor de urnas que espia o casal escondido debaixo de sua cama.

Quase todas as poucas conversas são pelo telefone, tratando de banalidades comerciais ou trivialidades do dia-a-dia que não arranham nem a superfície do enorme bloqueio que impede as pessoas de qualquer forma de comunicação genuína. Que essa incomunicabilidade aconteça num mundo poderosamente high-tech, repleto de elevadores, computadores e celulares, é apenas um sinal de que a tecnologia não trabalha em proveito da felicidade humana.

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