Menina Má.Com tem uma premissa tão interessante, forte e atual, que chega ser uma pena que o diretor inglês David Slade deixe se levar tão facilmente por truques visuais baratos e desnecessários. A melhor qualidade do roteiro do estreante em cinema Brian Nelson é a subversão das expectativas que ele cria no início.
A adolescente Hayley (Ellen Page, de X-Men 3) conhece o fotógrafo Jeff (Patrick Wilson, de O Fantasma da Ópera) num chat na internet. Encontram-se num café e, horas depois, estão na casa dele, onde começam um joguinho de sedução. As posições de presa e predador logo se invertem, à medida em que a garota mostra suas reais intenções. Uma espécie de anjo vingador, a menina acredita que o sujeito é pedófilo e seduziu e matou uma menina depois de fotografá-la.
A partir de então, o filme fecha-se claustrofobicamente na casa do fotógrafo, confrontando os dois personagens – algo que remete de imediato à peça A Morte e a Donzela, filmada por Roman Polanski que, aliás, é citada no filme. Amarrado a uma cadeira, ele tem poucas chances de provar sua inocência. A Hayley, aliás, não existe essa possibilidade. Ela já o condenou e irá executar sua pena usando um kit de caseiro de castração que ela mesma criou, que envolve um saco de gelo, uma garrafa de vodka e um aparelho de barbear descartável.
Enfim, é a vítima se vingando antes mesmo de sofrer um abuso. Uma questão instigante que vai se dissipando aos poucos, à medida em que o roteiro deixa de lado a ambigüidade da situação para se prender a um jogo de gato-e-rato com o desfecho mais bobo que poderia achar. Desperdiçando, assim, elementos que poderiam tornar Menina Má.Com uma verdadeira experiência instigante.
De qualquer forma, a garota Ellen Page impressiona, numa performance melhor do que o roteiro merece. Capaz de transitar entre a fragilidade e a fúria, suas cenas iniciais como uma adolescente confusa não preparam para o que está por vir. E ela é capaz de convencer de tudo. No final, ela não é apenas a Chapeuzinho Vermelho, mas também o Lobo e o Caçador. Pena o roteiro e a direção não valorizarem isso.