07/02/2025
Romance Drama

Dias Selvagens

Nos anos 60, uma atendente de lanchonete (Maggie Cheung) apaixona-se por um jovem bonito e sedutor (Leslie Cheung). Ela se apaixona e quer um relacionamento mais profundo. Ele porém a abandona por uma prostituta (Carina Lau). Em casa, o rapaz também vive um relacionamento conflituoso com a mãe adotiva (Rebecca Pan).

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Este segundo filme do diretor chinês Wong Kar-wai, chegando tardiamente ao circuito brasileiro, revela-se uma cuidadosa compilação de idéias e do estilo que ele desenvolveria com mais afinco e segurança nos seus trabalhos seguintes, como o celebrado Amor à Flor da Pele (2000) e o recente 2046 (2004).

Trata-se da primeira parceria de Kar-wai com o diretor de fotografia australiano Christopher Doyle. Apresenta-se aqui, a cuidadosa composição de cada quadro e o jogo de luz e sombra que marcariam toda a obra do cineasta. Até agora, os dois já fizeram juntos oito filmes.

O mesmo ocorre na temática que Kar-wai tornou sua marca registrada. A história investiga a mesma pulsão de perseguir as paixões que, afinal, não se realizam. O sentido da perda é a essência deste filme que o próprio cineasta uma vez chamou de "reinvenção de um mundo desaparecido".

A ambientação, que tantas vezes se repetirá nos próximos filmes, é igualmente nos anos 60. Lai Chun (Maggie Cheung) é a atendente da lanchonete de um estádio de futebol. No cenário desolado, nas horas mortas, aparece Yuddy (Leslie Cheung), jovem bonito que faz de tudo para conquistá-la. Quando ela se apaixona e quer casar, ele a abandona abruptamente, iniciando uma relação complicada com uma prostituta (Carina Lau).

A abandonada Lai a princípio não supera a obsessão amorosa. Não consegue deixar de passar todas as noites perto do apartamento do ex-amante. Nessas noites de solidão, ganha a amizade cúmplice de um vigia da rua (Andy Lau). As solidárias conversas entre os dois, banhadas por uma meia-luz hesitante, no meio da bruma, consolidam o relacionamento afinal mais terno de todos. No universo de Wong Kar-wai, a paixão é sempre corrosiva.

Além de todas as namoradas, Yuddy vive um relacionamento tingido pelo amor e ódio também com a mãe adotiva (Rebecca Lan). A mulher manipula sua revolta, negando-se, por exemplo, a revelar a identidade de sua mãe verdadeira, por mais que ele insista. Ele se vinga expondo o ridículo do comportamento dela, uma velha senhora que vive sendo explorada em relacionamentos com rapazes da idade dele.

Yuddy é, afinal, um personagem autodestrutivo em toda linha, o que o lança numa rota sem saída. Um destino trágico que foi também o do ator na vida real, que se suicidou aos 47 anos, em 2003.

Lançado tardiamente também em outros países, como os EUA, Dias Selvagens revela-se uma boa amostra de um diretor em construção. A boa notícia é que a sua promessa se cumpriu.

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