O trio principal é formado pelo estudante de medicina Paulo (Caio Blat), o aluno de sociologia Leon (Alexandre Rodrigues, de Cidade de Deus) e a futura arquiteta Letícia (Maria Flor). Os dois primeiros são os melhores amigos, daqueles que dividem a precariedade de moradia, a falta de dinheiro e a cervejinha com a mesma energia. Letícia entra no mundo dos dois a princípio como namorada de Leon. Não vai parar por aí.
A sugestão de um triângulo amoroso fez com que o filme fosse comparado a Jules e Jim – Uma Mulher para Dois, clássico de 1962 de François Truffaut, quando o trabalho de Durán recebeu o prêmio máximo no Festival de Biarritz, em 2006. A comparação, parece, não agrada ao diretor ou ao elenco. Mesmo que Truffaut não tenha inventado o triângulo amoroso, como alegou o cineasta chileno, há mesmo um perfume do francês nesta história. A mesma delicadeza, o mesmo romantismo que duvida de si mesmo e, por isso, não se arrisca a tornar-se tão edulcorado. E as semelhanças terminam nesse ponto.
O que o filme chileno-brasileiro tem como diferencial é uma vívida intersecção entre o individual e o social, criando uma situação em que os três estudantes atravessam a fronteira invisível, porém real, da cidade dividida do Rio de Janeiro. Para localizar os filhos de uma paciente do Hospital Universitário, Paulo e os amigos acabam se arriscando numa favela, onde têm um encontro direto com a violência que só conhecem pelos noticiários.
A audácia deles nesta incursão nada tem de inverossímil. Ao contrário, mostra total coerência com a generosidade e paixão destes três seres que, por talento do roteiro e da direção, sem contar a entrega dos atores, parecem totalmente reais, de carne e osso. Mais de uma pessoa estranhou que o filme fosse escrito e dirigido por um sessentão, o que é puro preconceito, afinal. Durán exibe uma energia que, ao que tudo indica, continuará a gerar novos e belos filmes. O próximo já está sendo preparado, novamente com Caio Blat no elenco.