16/03/2025
Drama Biografia

Piaf - Um Hino ao Amor

Nascida pobre, filha de uma cantora de rua que abandonou a família e de um contorcionista, Edith Piaf tornou-se a maior cantora popular da França. Sua vida, seus amores e seus vícios estão neste filme.

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Indo e vindo na vida frenética da cantora francesa Edith Piaf (1915-1963), este filme certamente não aspira a ser uma cinebiografia completa. Inegável, porém, é a perfeição da interpretação da protagonista Marion Cotillard, que se transfigura para incorporar a mulher, sua tragédia e seu mito. E dá conta dos três. Merecidamente, ela venceu vários prêmios pelo papel, como o Oscar, o César e o Bafta. 

Buscando deliberadamente não ser linear, a história procura resumir a vida desta que foi a cantora popular mais carismática da história da França. Não há como dourar a pílula desta biografia e nem faria sentido tal mistificação. Nascida pobre, filha de uma cantora de rua e de um contorcionista, a pequena Edith acabou passando um breve período da infância num bordel – sua avó era cafetina e fora encarregada de seu cuidado depois que a mãe abandonou a família e o pai foi lutar na I Guerra Mundial.

Nesse ambiente, a menina de 5 anos (nessa idade interpretada por Manon Chevallier), começa a compreender a ambigüidade da vida. O ambiente de moral duvidosa não deixa de reservar-lhe muita ternura, já que uma das prostitutas, Titine (Emmanuelle Segnier, em interpretação admirável), nutre verdadeira adoração pela pequena.

As separações drásticas de sua vida começam também aí. Quando o pai volta da guerra, parte com a menina para uma vida mambembe, para desespero dela mesma e de Titine. A rua será a única escola artística para Edith. É lá que ela começa a cantar e rapidamente torna-se uma atração maior do que o pai. Adulta, vive como cantora de rua, a troco de uns tostões, dividindo seus afetos e seu copo com bêbados, marginais, ladrões e cafetões.

Talento assim bruto, ela não passa despercebida do olhar do empresário Louis Laplée (Gérard Depardieu). Ele é o primeiro a identificar naquela voz de timbre agudo e muito peculiar o manancial por onde passariam canções pelas quais o público francês se apaixonaria nos anos seguintes. Também foi ele que a batizou de Piaf, que num dialeto regional francês quer dizer “pardal”, referindo-se à sua baixa estatura (1,42 m).

A conquista do posto de cantora no cabaré de Laplée, o Gerny´s, não demora a ser abalada por um assassinato, que corta temporariamente a carreira da pequena estrela. Ela sobrevive, no entanto, a estes sucessivos altos e baixos, em que o acaso e as paixões fulminantes exercem seu papel. Uma das maiores, pelo boxeador de origem argelina, Marcel Cerdan (Jean-Pierre Martins), que era casado.

Algumas das mais belas seqüências do filme pertencem aos capítulos deste romance, como aquela em que a cantora, procurando seduzi-lo, mandou uma assistente cobrir um tapete de hotel de rosas vermelhas. Piaf personificava aquilo que suas canções dizem, um romantismo rasgado e sem limites. Ela sempre jogava pelo tudo ou nada.

O roteiro, do diretor Olivier Dahan e de Isabelle Sobelman, não se furta a abordar os vícios da artista por bebida e drogas, como a morfina – que, finalmente, encurtaram sua vida (ela morreu com apenas 47 anos).

Mesmo quem não conheça a cantora, poderá sentir-se sinceramente arrebatado pela grandeza da interpretação de Marion Cotillard – que eventualmente empresta a própria voz a algumas canções; em outros casos, o registro é da própria Piaf e outras cantoras). Os grandes conhecedores, também, embora possam sentir falta de alguns acontecimentos cruciais de sua vida, como sua colaboração com a Resistência durante a II Guerra e alguns de seus muitos amores.

Ninguém deverá reclamar da seleção de canções. Estão lá as maiores, La Vie en Rose, Non, Je ne Regrette Rien, Milord, Padam-Padam, Rien de Rien e outras mais inesperadas, mas igualmente deliciosas, como Il M´a Vue Nue.

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