21/03/2025
Comédia

Casa da Mãe Joana

Quatro amigos folgados só querem curtir a vida. Até o dia em que recebem uma ação de despejo. A única solução é trabalhar, mas cada um vai procurar um jeito mais fácil de ganhar dinheiro sem muito esforço.

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Com um currículo invejável de mais de 80 filmes, seja como ator, produtor ou diretor, Hugo Carvana fez da comédia seu gênero favorito desde a década de 1970. Sua predileção pelo cômico em relação ao dramático é evidente em produções - dirigidas e protagonizadas por ele –, como Vai Trabalhar Vagabundo, de 1974 (e sua seqüência em 1991), Bar Esperança, de 1982, e Apolônio Brasil – Campeão da Alegria, de 2003.

Com um humor escrachado, Carvana recheou seus filmes com o que há de mais característico na cultura carioca, na pele de protagonistas malandros e boêmios regados a doses de uísque. São personagens com os quais se identifica e, por isso, dá a eles uma credibilidade acima de qualquer traço caricatural.

Em Casa da Mãe Joana, no entanto, Hugo Carvana não segue a mesma dinâmica de seus filmes anteriores. Desta vez, traz às telas uma comédia rasteira, com personagens frágeis, que soltam as mais datadas expressões, as quais “chamando urubu de seu loro” e “bandalha” são apenas alguns exemplos.

A trama apresenta o cotidiano de quatro amigos, que não trabalham e vivem de pequenos golpes para manter seu apartamento, uma espécie de república de boêmios da antiga escola. Nela moram Juca (José Wilker), o hippie tardio, PR (Paulo Betti), o sedutor de velhinhas, Montanha (Antonio Pedro Borges), o jornalista curtido no uísque, e Vavá (Pedro Cardoso), rapaz criado pelo trio desde pequeno, que se tornou um amoral.

Os problemas da trupe começam quando, depois de um trambique milionário, Vavá foge com o dinheiro, deixando os outros três à míngua. Não apenas ficam sem recursos para bancar a vida de ócio coletivo, mas também sem condições de quitar as dívidas do apartamento, o que levará a uma ordem de despejo.

Não tarda muito para chegaram à conclusão de que precisarão trabalhar. PR torna-se um amante profissional para mulheres maduras, apesar de não ter mais a disposição necessária para a incumbência. Montanha volta a escrever colunas sentimentais para um jornal sob o pseudônimo de Dolores Sol, que, apesar de fictícia, passará assombrar o jornalista como um fantasma sem pudor (interpretado pela atriz Juliana Paes).

Enquanto isso, Juca busca emprego como acompanhante de um idoso, um tal de Comendador (Agildo Ribeiro). No fim, percebe que se trata de um senhor efeminado, que gosta de se vestir de mulher e paquerar rapazes no calçadão de Ipanema.

As situações tornam-se ainda mais extremas quando a mãe de PR, Herly (Laura Cardoso), uma hipocondríaca suicida, passa a morar no apartamento, junto com Tainacã (Fernanda de Freitas), filha despachada de Juca. Uma composição explosiva para um ambiente já repleto de problemas.

Em entrevistas, Hugo Carvana deu a entender que seu filme tem como ponto de partida lembranças de quando morava na juventude com três amigos no bairro do Leblon. O quarteto era formado por Miele (que faz uma participação especial), Daniel Filho (um dos produtores associados) e Roberto Maya (que também faz uma ponta), cujo apartamento era considerado, tal como Carvana diz “um templo da sacanagem e do sexo”. Assim, o filme seria uma possível memória desses tempos, especulando o que aconteceria se eles envelhecessem, recheado com humor.

Pode-se dizer que Casa da Mãe Joana é um projeto irregular, ou mesmo menor. Mas é evidente a animação dos atores, tal como a química entre eles. Carvana faz um filme entre amigos, no qual ele parece se divertir mais do que o espectador.

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