Com roteiro assinado pelo diretor e baseado na peça Largando o Escritório, de Domingos Oliveira, o filme é uma comédia de costumes com personagens, situações e merchandisings mal resolvidos. Embora seja tecnicamente bem-acabado, marca da produtora Conspiração Filmes – responsável por filmes como 2 Filhos de Francisco e Casa de Areia -, A Mulher do Meu Amigo não empolga, seja pela falta de situações realmente engraçadas ou de um elenco com mais carisma ou timing para comédia.
O personagem principal é Thales, interpretado por Marcos Palmeira - que já mostrou falta de senso de comédia em filmes como O Homem Que Desafiou o Diabo e senso de atuação em dramas como Dom. Num final de semana numa casa de campo ao lado da mulher, Renata (Mariana Ximenes), e do casal de amigos Rui (Otavio Müller) e Pamela (Maria Luisa Mendonça), ele decide que não voltará mais ao escritório. Ele trabalha com o sogro (Antonio Fagundes), um empresário nada escrupuloso.
Rui precisa voltar para a cidade e Renata inventa uma desculpa para acompanhá-lo – os dois têm um caso e ninguém nem desconfia. O caminho fica livre para que Thales e Pamela descubram que foram feitos um para o outro.
“A vida é feita de escolhas”, diz Thales no início de um filme. A de um diretor de cinema também o é. Mas Torres parece ter feito as piores opções possíveis, todas muito calcadas em clichês, a maioria deles, sexuais. Renata é uma ninfomaníaca e, por isso, segue as fantasias de sadomasoquismo e afins com seu amante. Pamela é meio burrinha, não entende nada do que está acontecendo. Thales é idealista demais e Rui, chato além das medidas.
“Rindo castigamos os costumes” já dizia Voltaire, e foi nisso que Torres se apoiou na sua estréia em 2004. Aqui, porém, a tentativa de riso é frouxa – e não haveria nenhum mal nisso se ela se concretizasse. Não há o riso simplesmente pelo riso – como numa comédia pastelão – nem o riso do sarcasmo ou da ironia –, simplesmente não há situações engraçadas. Existem apenas um amontoado de clichês que arrancariam algumas gargalhadas há algumas décadas, como a burrice de Pamela, ou a ninfomania de Renata.
A Mulher do Meu Amigo sofre também de um mal que atinge as produções televisivas do Brasil: a ausência de criatividade na hora de introduzir um merchandising. É natural que a grande rede de bancos que financiou o filme quisesse a sua logomarca numa cena – mas é exagerado demais colocar um caixa-rápido no escritório de um advogado só para satisfazer ao patrocinador. Nesse momento, aliás, é o único quando Torres consegue aquilo que tenta o tempo todo: arrancar uma gargalhada, só que constrangedora.