17/04/2025
Aventura Ação

Avatar

2154. Os humanos, que já esgotaram os recursos da Terra, agora querem explorar o planeta de Pandora. Lá existe um minério muito valioso. Porém, o povo nativo, os Na'vi, não se interessa por dinheiro. Uma cientista desenvolve um projeto para sua abordagem, usando o corpo de um "avatar", que mistura material genético humano e dos Na'vi.

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Dragões voadores, gigantes azuis, batalhas aéreas. Tudo em Avatar exala grandeza e depende da tecnologia digital. A ciência, no entanto, é mais vilã do que heroína no mundo idílico de Pandora, o planeta que está no centro dos acontecimentos.


Lá, a natureza está preservada por seus habitantes, os Na’vi, gigantes azuis, perfeitamente conectados de corpo e mente com o equilíbrio geral. Não se mata um único animal sem absoluta necessidade. A vida é sagrada para os Na’vi, que visualmente são um misto de indígenas e negros, habitando um mundo florestal e povoado de animais fantásticos e primitivos – como dragões alados e felinos gigantescos com dentes e garras afiadíssimos.


O sossego do planeta acabou com a chegada dos terráqueos, que em 2154, já esgotaram seu próprio planeta. O pior é que não buscam apenas espaço para morar – seu interesse está num valioso minério, cujo maior depósito está bem abaixo da moradia comunitária dos Na’vi.


Diante da total incompatibilidade de interesses entre os dois lados – os Na’vi não se interessam por nenhum bem econômico - e da postura bélica dos humanos, surge uma estratégia científica. A dra.Grace Augustine (Sigourney Weaver) gerencia o projeto dos avatares – ou seja, o desenvolvimento de corpos de Na’vi, aos quais se mistura material genético humano. Quem controla cada um deles é um ser humano, que tem afinidade genética com um deles. Cada humano conecta-se ao seu Na’vi quando entra numa câmara, onde permanece como num estado de sonho.


O avatar que tem a missão mais estratégica é Jake Sully (Sam Worthingon). Fuzileiro naval que ficou paraplégico, ele não tem muitas perspectivas profissionais, exceto substituir seu irmão gêmeo, que morreu acidentalmente e fora treinado para o projeto em Pandora. Assim, ele deve infiltrar-se entre os Na’vi, usando um corpo idêntico ao deles, e transmitir todos os seus segredos ao comandante militar, o truculento coronel Miles Quaritch (Stephen Lang).


Sully pode ser sujeito duro para prestar-se a essa missão traiçoeira. Mas não insensível a ponto de não sucumbir ao encanto natural do povo azul. Sua destreza física, especialmente, que lhes permite escalar árvores imensas e cavalgar dragões alados, é uma característica atraente para um ex-marine jovem que não pode mais dispor integralmente de seu corpo humano, preso a uma cadeira de rodas. Sem contar a atração amorosa que sente por sua mentora entre os Na’vi, Neytiri (Zoe Saldana).


Criando um universo muito maniqueísta, o roteiro, também do diretor James Cameron, deixa de explorar algumas nuances que cairiam muito bem num protagonista ambíguo como Jake Sully. A tomada de consciência sobre as consequências de sua espionagem é um tanto repentina, por exemplo. Como ele pode não ter percebido isso antes ?


Da mesma forma, poderia ser mais bem-construído o conflito entre a cientista Grace e seus auxiliares, que querem estudar o planeta, o gerente capitalista (Giovanni Ribisi), que quer explorar o minério, e o coronel, que deseja exterminar os nativos. Com a exceção da piloto rebelde Trudy (Michelle Rodriguez), não há um único militar que não seja brucutu.


O roteiro poderia esclarecer um pouco melhor o funcionamento da ligação entre o humano e seu avatar – durante quase todo o filme, Jake, por exemplo, entra e sai de sua cabine e não se sabe o que acontece com o avatar lá na floresta. Ele apaga, como se saberá mais adiante.  Então, é de se perguntar, e os Na’vi, não estranham isso ?


Nas guerras entre os Na’vi e os humanos, é hora do show desta caríssima tecnologia digital, que responde por 60% das imagens. Inclusive Inclusive boa parte do elenco só é vista na tela em sua versão digital, obtida a partir da técnica de capture motion dos atores reais.


Mas também se paga seu tributo a inspirações do passado. As guerras de Avatar  atualizam as batalhas de Star Wars, a franquia criada por George Lucas, com um toque de Apocalypse Now, de Francis Ford Coppola – especialmente por causa dos helicópteros. O enredo deve muito aos bons e velhos westerns, neste embate entre selvagens idílicos e conquistadores ferozes. Tudo isso antecipando também o que são os videogames baseados neles.


Tudo somado, sobra duração – são 160 minutos - e falta um pouco de alma. Tenta-se resolver isso injetando um certo misticismo new age do meio para o fim. A predominância da técnica, de se esperar até certo ponto num filme produzido nestas condições, é evidentemente mais bem aproveitada na exibição nas salas 3D. Sem dúvida, assistir ao filme numa delas, ou numa sala IMAX, é uma experiência sensorial superior. Mas que não resolve as fragilidades do roteiro mencionadas.


No Oscar 2010,  a superprpdução, com orçamento estimado em US$ 500 milhões, ficou com três estatuetas (das nove indicações): efeitos visuais, direção de arte e fotografia. E mantém, até agora, o posto de maior bilheteria de todos os tempos no mundo, com US$ 2,847 bilhões arrecadados, incluindo o relançamento em 2019 - o que deve ser superado por esta nova temporada nas telas. 

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