Ressuscitando a tendência a uma ficção científica mais cerebral – à la Philip K. Dick, embora sem igualar-se à sofisticas obra do inspirador de filmes como Blade Runner – O Caçador de Androides (1982) e Os Agentes do Destino (2011) –, Contra o tempo, do novato britânico Duncan Jones (do premiado Lunar, 2009), é uma centrífuga de influências. Há um pouco do bom e velho Feitiço do Tempo (93), especialmente numa viagem no tempo que se repete à revelia do protagonista, o capitão Colter Stevens (Jake Gyllenhaal).
Mas esqueça-se o tom de comédia daquele antigo filme, estrelado por Bill Murray. Afinal, Colter está engajado numa missão militar da qual nem ele, a princípio, conhece os detalhes.
De saída, há um clima de thriller, já que Colter descobre-se a bordo de um trem que vai para Chicago, ao lado de uma bela moça a quem nunca viu, Christina (Michelle Monaghan). No entanto, ela conversa com ele como se se conhecessem. Poderia tratar-se de uma maluquinha, apenas. Mas, quando Colter se vê no espelho do banheiro do trem, é o rosto de outro homem que enxerga.
Ele não tem tempo para pensar muito, já que acontece uma explosão e ele se vê agora confinado a uma espécie de cápsula, onde está conectado à misteriosa voz de Colleen Goodwin (Vera Farmiga) – que passa a ser, para ele, o único contato com o que se poderia chamar de realidade.
O suspense do filme é mantido pela fórmula da revelação a conta-gotas, em que o espectador vai descobrindo a verdadeira situação de Colter e a missão que se espera dele ao mesmo tempo que o próprio capitão, um piloto de helicóptero cuja última memória vem da guerra do Afeganistão.
Não estraga nenhum segredo dizer que Colter é participante de um projeto científico ultrassecreto, que lhe possibilita entrar na memória de um passageiro do trem destruído oito minutos antes da explosão. Pretende-se usar sua Inteligência militar para vasculhar o vagão, à procura de indícios que permitam identificar o criminoso – já que há suspeita de que outra explosão está perto de acontecer.
O cenário único, desta viagem incessante aos mesmos oito minutos, causa mudanças emocionais em Colter. Como o fato de que ele começa a interessar-se seriamente por Christina, sua adorável companhia no fatídico trem. Será possível mudar o destino dela? Colter vai tentar fazer isso, ainda sem saber qual é, afinal, sua própria situação.
Jogando com uma série de possibilidades, o roteiro de Ben Ripley não deixa de apresentar seus pontos obscuros, caso submetido a um teste rigoroso de lógica. O que acontece, por exemplo, com a memória e os sentimentos do homem do qual Colter está invadindo o corpo nos oito minutos pré-explosão?
Não há resposta para tudo. Mas, caso se resolva dispensar a exigência de uma coerência perfeita, em favor de acompanhar o envolvimento de Colter, Christina e da oficial Colleen, Contra o tempo sem dúvida pode ser muito envolvente. Conta muito para isso o carisma deste formidável trio de atores.