Em 1938, com a morte de Lampião, um filho de fazendeiro que aderiu ao cangaço, Zé Olímpio (Rui Ricardo Dias), precisa se esconder. Resolve ir para São Paulo com a mulher e trabalha na construção civil. Anos depois, volta à sua terra, em Sergipe, retomando sua fazenda e entrando na política. O país mudou, mas o arbítrio volta a cruzar seu caminho.
- Por Neusa Barbosa
- 17/07/2014
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O cineasta Hermano Penna retoma o conflito entre o arcaísmo e a modernidade no Brasil profundo, que caracteriza sua obra desde o premiado Sargento Getúlio (83), em seu novo trabalho, o drama Aos Ventos que Virão.
Cearense de nascimento, Penna situa, mais uma vez, essa temática no Nordeste, no caso, na emblemática vizinhança de Poço Redondo (SE), local da morte do cangaceiro Lampião, justamente quando ela ocorre, em 1938. A data é um divisor de águas também para José Olímpio (Rui Ricardo Diaz), herdeiro de um fazendeiro que aderiu ao cangaço.
Escapando por pouco da morte, Zé Olímpio decide acatar os conselhos da família, partindo para uma São Paulo que inicia seu vertiginoso processo de urbanização. No ambiente da construção civil, Zé Olímpio tem mais de uma oportunidade de entrar em contato com outras mazelas sociais, como a exploração da mão-de-obra e o preconceito contra os nordestinos.
Se em São Paulo esboça-se um início de ascensão social, já que Zé Olímpio tem alguma instrução, também tem encontro marcado com um velho inimigo, o sargento Isidoro (Edlo Mendes) – que decide chantageá-lo em troca de deixá-lo em paz, sem acertar as contas com a lei pelo seu passado cangaceiro.
Neste ponto a história dá um salto, que somente terá explicação no final do filme. Enquanto isso, Zé Olímpio volta à sua terra, depois da morte do pai, para retomar a posse de sua fazenda e também iniciar uma carreira política.
Realizador experiente e politizado, Penna revela sua disposição de retraçar o acidentado percurso das esperanças da busca de modernidade política e social do País, que atravessa, no período retratado na história, o fim do cangaço, o reforço do sistema eleitoral, a modernização econômica e industrial e a construção da nova capital, Brasília, sem por isso ver o fim das desigualdades nem do arbítrio – no período imediatamente anterior ao golpe de 1964.
Com uma ambição deste porte, a narrativa mostra-se, no entanto, em vários momentos um tanto modesta demais para dar conta de sua complexidade a contento. O que não invalida a honestidade e firmeza do intento, a partir de um roteiro do próprio Penna, com a colaboração de Jaqueline Tavares e do também diretor Paulo Sacramento (Riocorrente). O elenco conta ainda com as presenças iluminadas de Luís Miranda e Neuza Borges.