Nesta ficção científica, Interestelar, o diretor inglês Christopher Nolan mira em 2001: Uma Odisseia no Espaço e acerta em Gravidade – ou seja, aspira a uma profundidade filosófico-existencial, mas cai na fascinação por efeitos especiais e truques, além de um falatório mais longo do que uma viagem espacial. Em todo caso, a força do filme está em suas imagens – já que sua trama é óbvia, beira o banal.
A Terra vive seus últimos dias. Crises generalizadas levaram muitas pessoas a abandonar suas profissões, tornando-se fazendeiros para produzir os alimentos básicos. Mas o solo de todo o mundo está tão degradado, por culpa de uma praga que assola as plantações, além de uma persistente nuvem de poeira, que cientistas começam a pensar na possibilidade de explorar novos planetas a serem colonizados. Se esse é o pano de fundo de Interestelar, é na relação entre pai e filha que Nolan – que assina o roteiro com seu irmão, Jonathan Nolan - coloca o peso do filme.
Com a destruição das plantações, Cooper (Matthew McConaughey), que cultiva milho em sua fazenda, está com os dias contados. Um dia, ele foi piloto e sonhou em ser astronauta, mas as condições econômicas forçaram a NASA a fechar o programa espacial. Sua filha caçula, Murph (Mackenzie Foy), compartilha da paixão pelo espaço, tanto que um dos problemas que ela enfrenta na escola é acreditar que as missões à Lua realmente aconteceram – afinal, a história foi reescrita, e essas viagens agora são descritas apenas como propaganda para forçar a quebra da União Soviética.
Mas Cooper descobre que a NASA não só ainda existe como mantém um programa secreto para pesquisa da possibilidade de estabelecimento dos humanos em outro planeta. O mentor é professor Brand (Michael Caine), responsável pelo Projeto Lazarus. A chance reside num buraco próximo a Saturno, capaz de permitir o acesso a uma outra galáxia, onde existem alguns planeteas com possibilidades de servir de habitat.
A equipe é composta por Amelia (Anne Hathaway), filha do Professor Brand, Romilly (David Gyasi), um astrofísico, Doyle (Wes Bentley), o copiloto, e robô TARS (dublado por Bill Irwin). As cenas dentro da espaçonave são as mais fracas do filme, e os personagens não dizem muito a que vieram – especialmente Amelia, uma personagem sem graças ou nuances, candidata ao posto de chata da missão.
Os astronautas hibernam durante a viagem de 2 anos, que na Terra equivalem a 23 anos. Nesse período, a mudança mais considerável é que Murphy se tornou uma cientista e é interpretada por Jessica Chastain – que tem problemas com o pai que, na visão dela, a abandonou. E é esse laço que impulsiona o filme – afinal, Cooper está fazendo todos os sacrifícios pela filha e o filho (adulto, interpretado por Casey Affleck) e futuros netos.
De toda a promessa e jargão cientificista, Interestelar oferece muito pouco de ficção científica e se contenta apenas com um drama meloso sobre amor paternal e o destino da humanidade – o que faz pensar no risco que podemos estar correndo.