Comédia com inspiração nobre – um conto de Guimarães Rosa –, Meus Dois Amores tem outro bom trunfo num elenco recheado de talentos, como a dupla protagonista, Caio Blat e Maria Flor. Entrosados e com boa química, interpretam o casal de noivos Manuel e Das Dô.
Procurando criar uma comédia rural impregnada de um sabor à la O Auto da Compadecida, o diretor Luís Henrique Rios (estreante em longas mas diretor geral da série Malhação) se arrisca bastante numa história de tom farsesco, a partir do detalhe de que a principal “concorrente” da bela Das Dô às atenções de Manuel é nada mais, nada menos do que uma mula, Beija Fulô.
Capiau até o último fio de cabelo, Manuel não larga da mula, com quem até dorme, feito um bichinho de estimação. Para horror da noiva, que, enciumada, recorre até ao sinistro feiticeiro local, Toniquinho das pedras (Julio Adrião) para azarar a bichinha.
Mais complicadas são as relações familiares. Manuel é filho de mãe solteira, Flausina (Vera Holtz), uma das muitas mulheres engravidadas e abandonadas pelo coronel Nhô Peixoto (Lima Duarte), que não reconhece a paternidade de Manuel até ouvir falar de um episódio de valentia do filho – e que pode até não ser bem o que parece.
Valentia mesmo requer o enfrentamento com o cangaceiro Targino (Alexandre Borges), a quem Manuel vendeu um cavalo manco e que se empenha na vingança de qualquer jeito, colocando em risco a noiva do rapaz, Das Dô.
Neste universo rural colorido, que toma várias liberdades em relação ao original de Guimarães Rosa (o conto Corpo Fechado, do livro Sagarana), o ritmo flui com leveza, mas sem que se perca a impressão de estar assistindo a uma minissérie de televisão, empipocada de clichês engraçadinhos, mas já vistos em outra parte.
