Depois de ter começado a carreira com dramas inspirados pela morte – como o belo mas duro Maborosi, a Luz da Ilusão (1995) -, o cineasta japonês Hirokazu Kore-eda voltou-se à intimidade das relações humanas, como no recente Pais e Filhos, prêmio de Júri em Cannes em 2013, em que analisa os efeitos devastadores de uma troca de crianças entre duas famílias.
Em Nossa irmã mais Nova, o tom é mais leve, embora igualmente intimista, traçando o retrato de uma delicada fraternidade feminina. Três irmãs (Haruka Ayase, Masami Nagasawa e Kaho), filhas de um mesmo pai, que formou uma nova família há vários anos, descobrem uma irmã menor (Suzu Hirose) ao comparecerem ao funeral dele. Contra a sua própria expectativa, enternecem-se por ela. E resolvem trazê-la para morar com elas.
Como vários mestres japoneses (a memória de Ozu e Yamada é inevitável), Kore-eda mantém essa capacidade de resgatar a grandeza e a complexidade existentes por trás do que é aparentemente simples e corriqueiro dentro de qualquer família do mundo – como as separações, as brigas por heranças, as mágoas pelo que se deixou de dizer. Neste sentido, o filme tem eco universal, contando, além do mais, com um excelente quarteto de intérpretes (Suzu Hirose, Haruka Ayane, Kaho e Masami Nasagawa).
Nem por isso, até pelas credenciais do diretor, se deixa de sentir que em alguns momentos o filme esgarça o seu fino tecido, aplainando demais os conflitos. Em todo caso, a estética de Kore-eda é, cada vez mais, a de uma delicadeza possível e até necessária. Neste sentido, até a doçura de todo o contexto é contagiante para um espectador que procura um filme suave ao qual possa entregar seu coração.