17/04/2025
Ficção científica Ação

A Vigilante do Amanhã: Ghost in the shell

O cérebro de uma refugiada gravemente ferida numa ataque terrorista é implantado numa ciborgue de última geração. Ela se transforma numa policial dotada de força e sagacidade. Porém, quando desconfia que a história que lhe contaram não é verdadeira, ela buscará descobrir o seu passado.

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A última vez que vimos Scarlett Johansson em Tóquio foi em 2003, ao som de Just Like Honey, enquanto ela se despedia de Bill Murray, ao final de Encontros e Desencontros. Mais de uma década se passou e, no universo da ficção nem ela, nem a cidade, são as mesmas. Em A Vigilante do Amanhã: Ghost in the Shell, embora o cenário não seja assumidamente a capital japonesa, há muito da capital nipônica. Já a personagem da atriz, nem é mais 100% humana: é uma ciborgue projetada para lutar contra os mais perversões vilões.
 
A Vigilante do Amanhã, nova adaptação do mangá de Masamune Shirow (sendo a mais famosa, Ghost in the Shell, de 1995), se constrói num nível duplo de narrativa, que caminha para se resolver de forma única. A Major Miran Killian, a protagonista, é, basicamente, o cérebro de uma refugiada ferida num ataque terrorista implantado num corpo artificial dotado de força mais do que humana. Ao menos essa a versão da cientista dra. Ouelet (Juliette Binoche), que a criou. Um ano depois da transformação, a vigilante está nas ruas de uma cidade, cujo visual lembra o de Blade Runner, ainda mais abarrotado de estímulos visuais.
 
Não custa muito uma nova trama emergir: a da identidade da Major. Quem é ela? Constituída de fibras e circuitos, ela não acredita ser humana – embora dentro dela exista mais humanidade do que em todos os personagens tecnicamente humanos que a cercam. É esse resgate pelo passado que se torna a força motora do filme dirigido por Rupert Sanders (Branca de Neve e o Caçador). A trama é mais simples do que parece, e o filme não gasta muito tempo tentando mascará-la como algo super-sofisticado – o que é uma vantagem.
 
Nessa jornada em busca de descobrir quem realmente é, a Major conta com a ajuda da dra. Ouelet, talvez a única pessoa dentro do laboratório em quem ela pode confiar, Batou (Pilou Asbæk), um colega de trabalho, que acaba fisicamente modificado depois de um acidente, e Aramaki (Takeshi Kitano), supervisor responsável por delegar as missões e protegê-la, mesmo à distância.
 
A cidade com seus hologramas, ruas entulhadas de pessoas e cores e favelas verticais parece uma atualização do visual de Blade Runner, com excessos por todos os cantos, criando imagens quase hipnóticas. O filme, que facilmente se enquadraria no sub-gênero da ficção científica pós-cyberpunk, investiga o impacto do avanço tecnológico, das sociedades ultrainformatizadas. A Major é toda composta de dados, podendo ser hackeada ou infectada por um vírus. E ela não é a única.
 
Quem tem informação, mais do que nunca, tem o poder. É nesse sentido que ocorrem as disputas da narrativa do filme. No primeiro plano, a informação está no nível pessoal – o passado da Major –, mas o domínio dessa instância em cada pessoa é capaz de controlar toda a sociedade. E isso é de grande interesse para o misterioso Cutter (Peter Ferdinando), da empresa que fez a androide – e não apenas ela.
 
De certa forma, nas entrelinhas, nos seus “entrebites”, A Vigilante do Amanhã é uma espécie de utopia que potencializa a subjetividade de cada indivíduo por meio da artificialidade de sua protagonista em sua jornada para se descobrir como humana. A verdade está exatamente na contradição da máquina em busca do humanismo. É explorando esse conceito que o longa tem seus melhores momentos. 
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