Dois homens lutam para sobreviver num mundo dominado por zumbis. Columbus (Jesse Eisenberg) é um grande covarde e Tallahassee (Woody Harrelson) é um exterminador. Eles se unem a Wichita (Emma Stone) e Little Rock (Abigail Breslin), que também têm métodos únicos de sobreviver. No meio do caos, eles resolvem também aproveitar algumas das pequenas alegrias da vida, enquanto é tempo...
- Por Alysson Oliveira
- 31/03/2003
- Tempo de leitura 3 minutos
Zumbis podem ser um instrumento útil nas mãos de roteiristas. A natureza das criaturas encaixa-se muito bem em qualquer tipo de metáfora, desde a política – como no caso dos filmes do pioneiro George A. Romero (A Noite dos Mortos-Vivos) – até as sentimentais e emocionais, como em Zumbilândia. Dirigida por Ruben Fleischer, a comédia se passa nos Estados Unidos devastados por uma praga que transforma as pessoas em canibais.
Tudo começou com um sanduíche contaminado, mas isso não importa muito. Afinal, os personagens não estão em busca das causas, nem da cura, mas da sobrevivência. Assim, tentando salvar-se de serem devoradas, quatro pessoas reencontram sua humanidade perdida.
Os zumbis funcionam em dois planos nessa história. Primeiro, na forma real, devoram os outros e, portanto, são uma ameaça para quem não está contaminado. No plano metafórico, a perda da humanidade desses monstros representa a desumanização que poderia assolar o mundo.
Em meio ao caos, um rapaz que ainda não foi mordido, portanto, não contaminado, tenta atravessar o país para encontrar seus pais, com quem nunca teve um relacionamento mais próximo. Mesmo assim, espera encontrá-los a salvo. Ele é interpretado por Jesse Eisenberg (A Lula e a Baleia). No meio do caminho, encontra outro sujeito destemido, mas meio maluco, que ainda está saudável também, vivido por Woody Harrelson (Onde os fracos não têm vez). Este acaba dando carona para o garoto, mas alerta-o de que não devem dizer seus nomes, para não criar laços emocionais – será mais fácil se precisarem executar um ao outro em caso de contaminação. Assim, tratam-se apenas pelo nome do lugar para onde vão, Columbus e Tallahassee, respectivamente.
Além de fugir dos zumbis, Tallahassee tem outro objetivo: encontrar um pacote de bolinhos recheados de que tanto gosta. Ele precisa realizar este desejo logo, pois sabe que a data de validade dos últimos exemplares está próxima do vencimento. Se for perdida esta oportunidade, nunca mais poderá provar a iguaria. Eis aí outra metáfora, num filme que num primeiro momento parece tão banal quanto a vida dos zumbis que explodem com os tiros de Tallahassee e Columbus. A história, afinal, procura dizer algo mais. Os bolinhos representam os pequenos prazeres da vida.
Não está fácil encontrar o tal doce. Num supermercado onde fazem uma parada, os dois herois encontram duas irmãs, que também ganham codinomes, Witchita (Emma Stone, de Minhas adoráveis ex-namoradas) e Little Rock (Abigail Breslin, de Pequena Miss Sunshine). Depois de muitos mal-entendidos, encontros e desencontros, os rapazes descobrem que as duas garotas também tem seus “bolinhos” para encontrar. A caçula quer visitar um parque de diversões do outro lado do país.
Sem fugir à “tradição” do gênero, Zumbilândia apresenta diversas maneiras de matar zumbis – desde a básica com armas de fato, até banjos e portas de carro. O filme é diversão do começo ao fim, uma comédia insana que, quando ameaça cair no ridículo, se segura. O alto número de cadáveres e os litros de sangue que jorram na tela podem assustar alguns, mas aqueles que apreciam o gênero têm apenas motivos para se divertir.
Harrelson faz uma divertida paródia de si mesmo, enquanto Abigail já cresceu bastante e mostra talento suficiente para deixar para trás sua personagem em Pequena Miss Sunshine. O elenco conta ainda com a participação de um ator que fez sucesso nos anos de 1980 com comédias no papel de si mesmo – mas dizer quem ele é significaria estragar parte do prazer de se ver Zumbilândia.
Mesmo com sua profusão de mortes e mortos-vivos, Zumbilândia também faz lembrar das pequenas alegrias da vida. Sem medo de misturar gargalhadas com sangue – receita muitas vezes de gosto duvidoso –, o longa pode ser visto também como um bom filme trash que faz rir por bons 90 minutos.