Dirigido por Rafael Terpins, o documentário Meu tio e o Joelho de Porco revisita a banda paulistana, criada em 1972 por Tico Perpins, considerada precursora do movimento punk tupiniquim. Com letras insólitas e bem humoradas, também recebe os créditos por ter aberto caminho para grupos que surgiram nos anos seguintes, como Premeditando o Breque, Ultraje a Rigor e até mesmo o Mamonas Assassinas, usando e abusando de letras divertidas e uma mise-en-scène muito particular e até agressiva para os padrões da época.
Rafael era criança quando Tico morreu, em 1998, de um infarto fulminante, mas isso não o impede de relembrar de forma carinhosa do tio despirocado, com o auxílio de parceiros, amigos e familiares que ainda têm muito o que contar sobre esse músico criativo e divertido, autor de proezas que hoje seriam impensáveis - como acertar a participação em um programa de auditório, ao vivo, e fugir pelo palco sem tocar nenhuma música. E repetir a façanha no mesmo programa dias depois.
Com vídeos de apresentações em bares, teatros e estúdios de TV (alguns bem precários), o filme conta com entrevistas com integrantes do grupo, como o baterista e cantor Próspero Albanese, que abandonou a formação original quando se formou em direito.
Como não podia deixar de ser, o filme gira em torno do tio Tico Terpins e seu estilo muito particular de conduzir a banda. Cobrindo o rosto com maquiagem borrada e envergando smoking, as apresentações eram sempre inusitadas e com final muitas vezes inesperado. Certa vez, cantando músicas com letras pornográficas, em um bar de quinta categoria, saíram à francesa do palco no intervalo, deixando para trás os instrumentos, mas evitando uma possível agressão que pairava no ar.
Em 1998, dedicando-se ao seu estúdio de jingles e levando uma vida pacata, com alimentação saudável, foi surpreendido por um infarto. O provocador do passado, que havia abandonado os excessos que normalmente acompanham o rock’n’roll, foi tirado do palco com a violência que ele sempre soube driblar. Nem deu tempo de lamentar aquele mardito fiapo de manga, preso no maxilar inferior e que não deixa ninguém em paz.