As principais referências do filme indicam que a história acontece no passado: João (Gabriel Pardal) faz programas para computador em uma época anterior à popularização da internet e usa um celular analógico. Trancado em seu apartamento, evitando o convívio com as pessoas, é obcecado com o tempo. Gostaria que o presente se eternizasse para que as coisas boas pudessem ser apreciadas sem pressa. Quando sai às ruas, o que raramente ocorre, não caminha de forma apressada: quer adiar a chegada ao apartamento e à rotina de seu trabalho sem criatividade. Molha os pés na água do mar em eterno refluxo, como ondas temporais, o presente que se transforma em passado tão logo a maré reflui.
O amigo Lucas (Iuri Saraiva) tenta tirá-lo de seu estado de torpor, mas João resiste. Seu apartamento está em desordem. Parece uma caverna, com lixo acumulado.
Um dia, por insistência de Lucas, concorda em ir a uma festa de um amigo comum. Na entrada do prédio onde ocorre a festa, encontra Mai (Camila Márdila, de Que Horas Ela Volta?). Por insistência dela, acabam caminhando na orla e ele, animado com a companhia, desfia suas preocupações sobre o tempo presente, numa longa conversa filosófica, da qual ela também participa.
Mas João encerra buscamente a conversa e vai embora. Nos dias seguintes, sua rotina prossegue e parece mais sufocante a cada minuto. Sua obsessão pela paralisação do tempo cresce ainda mais. Ele faz anotações em folhas de papel que cola na parede. Poderiam ser fórmulas matemáticas, mas parecem apenas frases que refletem seu estado mental no mento em que escreve.
O filme, dirigido por Hilnando SM, tem o ritmo lento, contemplativo. Pede atenção de quem o assiste e permite toda sorte de fechos. A última cena, após os letreiros, pode ser uma chave.