Depois de uma tentativa frustrada de carreira na Espanha, o jornalista Roberto volta ao Brasil e tenta refazer a vida, apesar das dívidas. Ele descobre que seu pai deixou um terreno na Praia Grande e vender o imóvel é a chance de conseguir o dinheiro de que precisa. Mas a escritura ainda está no nome do antigo dono e é preciso negociar com o filho dele para regularizar a situação.
- Por Alysson Oliveira
- 21/09/2018
- Tempo de leitura 2 minutos
Em seu cinema, o diretor Ricardo Elias parece interessado por deslocamentos e espaços. Em De passagem (2003), seu primeiro longa, um par de amigos atravessa a cidade para reconhecer o corpo do irmão de um deles. O segundo, Os 12 trabalhos (2006), é protagonizado por um motoboy cujo caminho, ao longo de um dia, cruza com diversas pessoas. Não é de surpreender que no novo longa, Mare Nostrum, ao centro esteja a disputa por um terreno no litoral paulista, e os personagens precisem deslocar-se para resolver a disputa pela posse do imóvel.
Roberto (Silvio Guindane) é um jornalista que acaba de voltar da Espanha, onde esperava fazer uma carreira, mas está sem dinheiro e a escola da filha adolescente, Beatriz (Lívia Santos), cancelou sua matrícula. O que pode ajudar a saldar as dívidas é a venda de um terreno que o pai (Ailton Graça) tinha. Roberto vai até lá com a menina e um corretor de imóveis (Carlos Meceni), e descobre que a escritura não está no nome de seu pai, mas do antigo proprietário.
Ele chega até o filho do homem, Mitsuo (Ricardo Oshiro), e pede para regularizar a situação. O rapaz, no entanto, também está com problemas financeiros, - acabou de voltar do Japão, onde um tsunami levou tudo o que tinha. Para resolver a questão, ele pede R$ 20 mil – que usará para comprar um computador e trabalhar como designer – ,o que Roberto acha uma afronta, mas, seguindo os conselhos do corretor, acaba acatando.
Mare Nostrum, cujo título vem do lema da bandeira de Praia Grande, é um filme que transita entre o realismo e a fantasia. O primeiro está estampado nos personagens e na situação que enfrentam. A crise econômica que dificulta suas vidas não é apenas no Brasil – a Espanha e o Japão negaram uma vida melhor aos dois rapazes. A fantasia está no próprio terreno e poder transcendental que supostamente possui de realizar os desejos das pessoas – e quem descobre isso primeiro é Lívia.
As idas e vidas entre São Paulo e Praia Grande são os principais deslocamentos que os personagens percorrem, mas também precisam fazer outras viagens em busca do papel em que os pais de Ricardo e de Mitsuo assinaram, o acordo de compra e venda.
Roteirizado pelo diretor, Eneas Carlos e Claudio Yosida, o filme começa de maneira um tanto titubeante e tímida, mas quando o terreno entra em cena, Mare Nostrum se encontra e flui com segurança e delicadeza. É um filme no qual os personagens acumulam frustrações e precisam aprender a lidar com elas – uma vez que a superação não parece ser, no momento, uma possibilidade. E assim o fazem, cumprindo os seus destinos.