Inspirada na série de streaming do mesmo nome, A Divisão, de Vicente Amorim, embarca numa história policial temperada com violência e dilemas éticos. Ambienta-se no Rio de Janeiro do final dos anos 1990, quando uma onda de sequestros abalava a cidade e desafiava os esforços do chefe de polícia, Paulo Gaspar (Bruce Gomlevsky).
Se há uma qualidade na história, é não promover uma idealização da força policial - o primeiro a não ter ilusões é, aliás, o próprio chefe de polícia. Sabe que alguns de seus comandados faturam alto com chantagens e acordos com traficantes - que eles mesmo sequestram, extorquem e soltam. Sabe também que, de outro lado, estão os brucutus, que não hesitam um minuto em partir para a violência, a tortura e deixar uma pilha de cadáveres atrás de si. A aposta de Gaspar para encarar o desafio dos sequestros é unir os dois lados, para que um controle os excessos do outro.
Assim, ele coloca sob a mesma Divisão Antissequestro o delegado Mendonça (Silvio Guindane), um dos durões violentos, comandando um trio de policiais que mantinha esquemas com os traficantes: Roberta (Natália Lage), Santiago (Erom Cordeiro) e Ramos (Thelmo Fernandes). Por ali, também age o delegado Benício (Marcos Palmeira), de fala macia mas que tem agenda própria. Todo esse time é mobilizado quando ocorre o sequestro da Camila (Hanna Romanazzi), filha de um conhecido político em campanha, Venâncio Flores (Dalton Vigh).
Seguindo o mesmo estilo da série, não se economiza em realismo para retratar as sequências que mostram os policiais em ação, subindo morros, prendendo e torturando suspeitos, distribuindo tiros e na correria. Em que pese que a violência superou o aceitável em alguns momentos, esta busca de realismo e energia é um dos pontos fortes do filme.
Como filme (e série) têm à sua disposição um inegavelmente talentoso elenco, é pena que não se tenha trabalhado um pouco mais para atenuar o maniqueísmo na forma como se desenha os personagens e suas posições no jogo que está no centro do roteiro - assinado por Gustavo Bragança e José Luiz Magalhães. Esboça-se um confronto entre os métodos violentos de Mendonça - que deve ser o delegado dos sonhos do governador Witzel - e os “jeitinhos” de Santiago e seus dois amigos, o que é interessante, mas não é desenvolvido em toda a sua potencialidade, em nome do entretenimento.