Há pouco tempo, a escritora Shirley Jackson foi redescoberta pelo público, com a adaptação de A assombração da Casa da Colina, na Netflix, e um filme inspirado em sua vida, Shirley. Os Segredos do Castelo leva às telas um romance menos popular, Sempre vivemos no castelo, que traz como protagonistas duas irmãs vivendo em isolamento com um tio cadeirante (Crispin Glover), após a morte por envenenamento dos pais. Mary Catherine (Taissa Farmiga), de 18 anos e conhecida como Merricat, e sua irmã mais velha, Constance (Alexandra Daddario), são hostilizadas pelos moradores locais, que creem que elas sejam responsáveis por mortes na região.
A mansão de estilo gótico onde moram, à qual chamam de “Castelo”, fica no topo da colina, de onde parecem julgar toda a pequena cidade situada na Nova Inglaterra. Merricat passa os dias fazendo feitiços com o objetivo de manter longe os moradores locais que as odeiam. A chegada de um primo jovem e charmoso mudará a vida das garotas e do Tio Julian. Charles Blackwood (Sebastian Stan) vem com seu conversível vermelho e a certeza de conquista da afeição das primas. Mas a caçula de cara acha-o estranho e desconfia ainda mais quando ele se mostra interessado nos objetos de valor da casa. A irmã dela, pelo contrário, se encanta com Charles e começa a ter um comportamento estranho, que inclui maltratar o tio.
Embora seja um suspense, o longa dirigido por Stacie Passon está pouco interessando em desvendar mistérios, mais concentrado na dinâmica que une e separa as irmãs. Demonstra-se um interesse peculiar pela maneira como elas encontram seu espaço no mundo. O roteiro de Mark Kruger concentra-se nas figuras de Merricat e Constance, cujos destinos parecem selados com a morte dos pais.
Sempre silenciada desde pequena, Merricat se isola de um mundo constantemente cruel com ela. Constance vive num estado de negação, anulando-se cada vez mais, e isso chega ao ápice quando se envolve com o primo Charles. Valendo-se de elementos caros ao Gótico Americano e ao melodrama, Passon faz um estudo de personagens femininas em busca de agir diante de uma opressão. O despertar das irmãs para seus infortúnios é lento e doloroso, mas inevitável.
Apesar da fotografia de Piers McGrail, Os segredos do castelo é um filme soturno, pois contrasta o colorido vintage vibrante de suas imagens com o tom sombrio da mente de suas protagonistas. É um longa que revela suas emoções aos poucos, na medida em que desvenda suas personagens, e o faz com eficiência.
