A duplicidade de línguas no título de Farewell Amor já dá o tom da história da família cindida que se reencontra 17 anos depois que o patriarca foi tentar a vida nos Estados Unidos, onde se tornou motorista de táxi, e agora recebe sua mulher e filha, que deixou em Angola ainda pequena. Escrito e dirigido por Ekwa Msangi, o flme começa no aeroporto, com a chegada das duas, e é dividido em três partes, narrando o reencontro e seus desdobramentos a partir do ponto de vista de cada um desses personagens.
A estrutura sofisticada da narrativa é arquitetada sobre os conflitos emocionais de cada uma dessas figuras. Walter (Ntare Guma Mbaho Mwine) fugiu da guerra em Angola e se estabeleceu como taxista. Durante a espera para trazer mulher e filhar, construiu uma nova vida, arrumou uma amante e se refez, mas sempre aguardando o reencontro. Mãe e filha, Esther (Zainab Jah) e Sylvia (Jayme Lawson), se mudaram para a Tanzânia, onde a matriarca se tornou uma evangélica fervorosa. Agora, mesmo em outro continente, manda dinheiro para sua igreja e liga para o pastor em busca de conselhos.
A fotografia naturalista de Bruce Francis desnuda o filme de qualquer glamour e coloca o público dentro da vida cotidiana da família. Walter e Esther têm problemas em reconectar. Ela tenta seduzir o marido – o pastor disse que a conjunção da carne é tão necessária quanto a do espírito –, mas são praticamente um par de estranhos. Nenhum dos três fala do passado, e a cada dia se distanciam mais. Na escola, Sylvia faz um novo amigo, DJ (Marcus Scribner), com quem um romance parece ser ensaiado, mas só de imaginar a reação de sua mãe, a garota paralisa.
Em casa, Esther passa os dias preocupada, de quando em quando telefonando para o pastor em busca de conselhos. Mas será a vizinha do apartamento ao lado quem a irá ajudar de verdade a se reencontrar como mulher, como esposa e se entender como imigrante. A personagem é pequena, mas interpretada com brilho e sagacidade por Joie Lee, irmã de Spike.
É notável o carinho e respeito que Msangi tem por esses personagens. Esther, por exemplo, podia facilmente se tornar uma vilã com seu fervor evangélico, mas a diretora está interessada nas motivações que levaram a mulher a se tornar assim: o medo e a solidão a conduziram à igreja e lá, mesmo que às custas de dinheiro, ela encontrou o conforto e segurança que procurava quando deixou seu país. A cineasta também consegue interpretações excelentes, em especial de Jah e Lawson, que estará no próximo Batman. E Farewell Amor anuncia a chegada de um novo talento na direção. Msangi, que já dirigiu curta e séries de televisão, se mostra segura em seu primeiro longa, dona de um olhar apurado para composição visual e relações humanas.
