27/03/2025
Drama Comédia

Mais que especiais

Bruno tem uma organização que ajuda jovens com autismo severo, que são negligenciados pelos hospitais. Sua vida é devotada a ajudar aos outros, mas a burocracia governamental ameaça acabar com o seu trabalho.

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Para o bem e para o mal, a dupla de diretores e roteiristas franceses Olivier Nakache e Éric Toledano nunca decepciona. Filme após filme, há uma década, eles fazem a mesma fórmula com pequenas variações, que não são exatamente um desvio, assim, agradam sempre aos fãs. Desde o sucesso de Os Intocáveis, estão em suas obras questões sociais, humor, e geralmente com base numa história real de superação. Em Mais que especiais, a checklist é completa.
 
Vincent Cassel interpreta Bruno, personagem inspirado em Stephane Benhamou, que mantém um abrigo para crianças e adolescentes com autismo severo. O protagonista é um sujeito de bom coração e com atitudes nobres, cuidando com carinho e disposição de uma parcela da população que a sociedade insiste em fingir que não vê. Por baixo de seu boné, descobrimos com alguns minutos de filme, há uma quipá - ele é um judeu ortodoxo, mas religião nunca será um assunto aqui.
 
Seu principal aliado e amigo é Malik (Reda Kateb), um muçulmano (mas, novamente, religião não é uma questão para eles, nem para o filme), que dirige uma instituição que ajuda jovens de áreas pobres com suas carreiras profissionais. O personagem é inspirado em Daoud Tatou, a quem Nakache e Toledano encontraram quando faziam um curta para ajudar o amigo Benhamou, que conhecem há mais de duas décadas.
 
Eles são os responsáveis por unir Dylan (Bryan Mialoundama) e Valentin (Marco Locatelli), o primeiro, um jovem em busca de emprego, e o segundo, um pré-adolescente, com ataques tão severos que precisa usar uma espécie de capacete acolchoado para proteger sua cabeça.
 
Bruno é dono de um otimismo incansável. Seu lema é “Vamos dar um jeito". No entanto, enfrenta um grande problema com a burocracia estatal, para regularizar sua organização. Mais que especiais deixa bem claro que o sistema governamental francês falha para ajudar pessoas com graves problemas – sejam de saúde ou sociais. Não que o longa seja uma denúncia, mas os diretores estão bem interessados em expor as brechas da situação. Esse é um ponto positivo aqui, mas nem sempre funciona de forma orgânica na narrativa, especialmente a combinação de comédia com drama social.
 
Apesar de todo o empenho, parece que algo falta aqui. Por mais que mostrem o trabalho excepcional e necessário de Bruno, fica a sensação de o conhecermos pouco. Quem é esse homem solitário? O conflito entre o protagonista e o sistema também é mais brando do que poderia ser na narrativa. O que se sobressai aqui são as interpretações, tanto de Cassel e Kateb, quanto de atores e atrizes não profissionais.
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