Professores e professoras inspiradoras são um tema recorrente no cinema. De Ao Mestre com carinho, passando por Sociedade dos poetas mortos a Entre os muros da escola. Por isso, o diretor e roteirista israelense Matan Yair anda por um terreno já bastante trilhado mas, ainda assim, consegue, em Andaimes, não cair na mesmice nem nos clichês do gênero, graças ao seu realismo comprometido e a uma interpretação marcante de Asher Lax, em seu primeiro filme.
O protagonista, que também se chama Asher, é um rapaz à beira da vida adulta com problemas de concentração e dificuldade de controlar seus impulsos – um comportamento que o faz parecer mais violento do que ele é. Seu pai, Milo (Yaacov Cohen), tem certeza de que o filho irá assumir sua empresa de construção de andaimes, um trabalho braçal que, aliás, ajuda na canalização de seus impulsos e força. A mãe abandonou os dois, anos atrás, e agora vive longe deles, mantendo quase nenhum contato.
Na escola, Asher está numa classe relegada aos que têm dificuldades de estudar e aos bagunceiros. Ninguém ali tem muito interesse nos estudos. Receber o diploma do ensino médio é o fim da carreira acadêmica deles e delas, que a partir de então irão apenas trabalhar em algo pouco intelectual. Porém, há um professor de literatura, Rami (Ami Smolarchik), que acredita no potencial dessas pessoas. Para ele, um pouco de esforço pode – e irá – despertar o senso crítico e paixão pelo conhecimento.
Por boa parte do tempo, Andaimes caminha por um rumo previsível sobre a relação tumultuada de Asher com Rami, cheia de altos e baixos, e também sobre o conflito do jovem com seu pai à medida que o rapaz começa a descobrir outro mundo e se interessar menos pelo trabalho. Porém, algo inesperado acontece, e o longa toma outros rumos.
Lax, que foi aluno de Yair (que leciona de história e literatura no ensino médio), é impressionante no personagem que traz muito dele mesmo. A busca do jovem por compreender a si mesmo e os homens ao seu lado (o pai e o professor) é genuína e, em, certa medida, comovente. A câmera naturalista de Bartosz Bieniek destaca os elementos da vida da classe operária. E os andaimes da empresa do pai do protagonista funcionam como uma ótima metáfora, contrastando o trabalho braçal com o intelectual, sobre as possibilidades de subir na vida.