A maior virtude de Pureza, longa de Renato Barbieri, é dar mais visibilidade à história de Pureza Lopes Loiola, que no começo da década de 1990 saiu da pequena Bacabal, no interior do Maranhão, em busca de seu filho adulto, que havia mudado de cidade em busca de trabalho, e nunca mais deu notícia. A busca pelo rapaz a levou a desmantelar todo um esquema de trabalho análogo à escravidão. E, em 1997, ela recebeu o Prêmio Anti-Escravidão da Anti-Slavery International.
Dira Paes interpreta Dona Pureza com a sagacidade e o vigor que lhe é comum como atriz, dando ao filme um verniz que o longa não consegue atingir nos outros campos. Não há a menor dúvida de que a história a ser contada é importante, e isso se torna um peso sobre os frágeis ombros cinematográficos do longa.
É como se toda essa relevância de Dona Pureza e seu ativismo, que começou como uma causa pessoal (o resgate do filho) e se tornou social, já bastasse. A pouca profundidade no desenvolvimento dos personagens impede que tenham nuances, e a eles e elas sejam delegados mais funções do que humanidade. A protagonista é A Mártir; há também O Capataz (Flávio Bauraqui); a mulher que encoraja Pureza a fazer a denúncia (Mariana Nunes); até o Político Corrupto (Antonio Grassi), numa cena, além dos Trabalhadores Escravizados.
Com uma música incessante e fotografia exacerbada, Pureza se perde em seu propósito nobre, deixando de lado as possibilidades cinematográficas. É, claramente, um filme de alto apelo comercial e, nesse sentido, opta pela estética mais óbvia para dialogar com um público mais acostumado com o padrão de qualidade televisivo. O norte do país, para onde a protagonista vai em busca do filho, tem os mesmos tons amarelo-dourados das novelas, para transmitir o clima quente.
Num país onde pessoas são a todo tempo resgatadas de condições de trabalho análogas à escravidão, o cinema deveria abordar mais vezes esse problema, mas com a profundidade que o assunto demanda. Pureza é uma tentativa repleta de boas intenções, mas reduzidas por suas limitações como cinema.