Fusão entre documentário e encenação, Rua Guaicurus, de João Borges, parte de uma residência artística que o diretor fez nos hotéis de prostituição, em 2016, no logradouro que dá título ao filme. O resultado é um filme híbrido munido de curiosidade e carinho pelas pessoas que retrata – especialmente as prostitutas, trazendo, inclusive, algumas delas no elenco.
Atores e atrizes, no entanto, também estão em cena pois nem sempre foi possível conseguir autorização de clientes e profissionais para as filmagens, por isso, se fez essa opção.. Mas as histórias contadas no longa partem todas de fatos verídicos que o diretor coletou ao longo de sua pesquisa, transformando em roteiro assinado por ele mesmo.
A Rua Guaicurus, no centro de Belo Horizonte, abriga desde os anos de 1950 esses estabelecimentos e as profissionais. O filme retrata o lugar de longe, seus hotéis, as pessoas que transitam e trabalham, até se aproximar num olhar mais intimista, registrando o que acontece lá dentro.
Não há qualquer glamour, nem na rua, nem a tentativa do filme transformar a profissão de prostituta em algo romantizado. O que Borges mostra são as dificuldades e desafios de mulheres que, por diversos motivos, têm essa profissão. Longe de julgamentos, Rua Guaicurus faz um retrato honesto, ora comovente, ora divertido – como na cena em que a personagem de Elizabeth Miguel (ela mesma uma ex-profissional da região) ensina os ossos do ofício a uma novata (interpretada por Ariadina Paulino).
Embora visualmente bem trabalhado, com fotografia de Lucas Barbi, o filme nunca fetichiza a profissão de prostituta ou os meandros da Rua Guaicurus, tranformando a vida e experiências dessas mulheres em mero objeto estético. Pelo contrário, Borges, sem julgamentos morais, mantém uma visão sincera de tudo o que sua câmera registra.
