Meu álbum de amores é um filme sem pudor de se valer de clichês – e essa é sua grande qualidade, assumir o óbvio exagerado sem medo de colocá-lo na tela. Dirigido por Rafael Gomes, o longa abraça o gênero de música brega/romântico com gosto, e faz disso sua razão de ser. Encerra um grupo de filmes ao qual o diretor chama de Trilogia dos Corações Sentimentais, que também inclui 45 Dias Sem Você (2018) e Música Para Morrer de Amor (2019).
No longa, Gabriel Leone tem dois papeis: o protagonista, o dentista Júlio, e seu pai biológico, o cantor Odilon Ricardo, cuja existência ele desconhecia, até que esse morre e o dentista é procurado por um meio-irmão, Felipe (Felipe Frazão), que igualmente não sabia que tinha. Além disso, ele acaba de ser abandonado pela namorada (Carla Salle) e vive uma crise sentimental.
A jornada de Júlio será, então, a do seu próprio amadurecimento, a partir dessas rupturas em sua vida. Inesperadamente, ele vai morar com o irmão, depois de brigar com a mãe (Maria Luísa Mendonça). Juntos, os dois tentam descobrir quem foi o pai, procurando antigas amantes e namoradas dele, interpretadas por atrizes como Clarisse Abujamra, Regina Braga e Laila Garin.
A narrativa é entrecortada por números musicais antigos de Odilon Ricardo, que reflete seu relacionamento com as diversas mulheres de sua vida. São momentos inusitados, que trazem brilho ao filme, pois têm uma estética própria que remete aos anos de 1970, seja na direção de arte ou na encenação.
Como dito, Meu álbum de amores não tem medo dos clichês – especialmente os românticos –, e, por isso, os caminhos da educação sentimental de Júlio são convencionais, fazendo um paralelo com a trajetória amorosa de seu pai. É uma sacada do filme, que permite a transição suave entre os números musicais e a realidade do protagonista, que, no fundo, descobre não ser o centro do mundo.