Pedro, Mariano e Ivan eram amigos inseparáveis na escola, até que cada um tomou um rumo na vida. Depois de se reencontrarem para refazer uma foto histórica da inauguração do Metrô de São Paulo. Pedro, palmeirense doentio, confessa que irá se matar quando o Brasileirão acabar, mas seus amigos estão dispostos a fazê-lo desistir da ideia.
- Por Alysson Oliveira
- 12/08/2022
- Tempo de leitura 2 minutos
Um palmeirense falido, um padre virgem e um advogado inescrupuloso entram numa cantina italiana. Poderia ser o começo de uma piada, mas é o mote da melancólica comédia nacional 45 do Segundo Tempo, na qual Tony Ramos, Ary França e Cássio Gabus Mendes interpretam, respectivamente, esses personagens.
Amigos inseparáveis de escola, algumas décadas atrás eles se reencontram para refazer, para uma revista, uma foto histórica que saiu num jornal, quando da inauguração do metrô. Tudo é uma surpresa: Mariano virou padre, Ivan deixou de ser o jovem idealista e agora defende políticos corruptos, e a cantina (que leva o aposto “A casa da bracciola”) de Pedro está falida. Além disso, também descobrem que o quarto elemento do grupo, Ernesto, morreu.
É desse ponto de partida que surge a narrativa do filme de Luiz Villaça, que traz ao centro Pedro em uma crise existencial, que decide se matar depois de acabar o campeonato, no qual o Palmeiras tem tudo para ser o campeão. Aos dois amigos sobra a árdua tarefa de dissuadi-lo desse propósito, durante as poucas rodadas que faltam do Brasileirão.
A saída que encontram para isso é revisitar o passado, já que o presente, para os três, não é muito atraente. Pedro está solitário desde a morte de sua cachorrinha, Calabresa, além de enfrentar os inúmeros problemas com a cantina fundada por seu avô. Nem dinheiro para comprar a carne para bracciola ele tem. Mariano está em crise profissional: seu celibato é um problema. E Ivan enfrenta problemas com sua mulher (Denise Fraga).
Entre um jogo do Palmeiras e outro, eles falam do passado, das experiências e de tudo que os trouxe até ali. Uma figura recorrente é Soninha, amor platônico de todos eles, que acabou se casando com Ernesto. A saída é visitá-la, numa pequena cidade do interior, onde ela mora até hoje e onde passaram férias juntos. A viagem é, novamente, a desculpa para inúmeras descobertas e memórias do passado.
Embora cômico, o tom de 45 do Segundo Tempo é melancólico e nostálgico, trazendo três homens que olham para os seus passados e pensam nas oportunidades perdidas. Poderia ser, no fundo, mera egotrip de homem branco, cisgênero de classe média, mas o filme é capaz, com sinceridade e sagacidade, de colocar em xeque as convicções dos personagens humanizados de forma acertada, que, quando fragilizados, pensam no peso de suas vidas, nos erros e acertos. O trio de atores está excelente – em especial Gabus Mendes e França como os amigos do protagonista.
“O futebol encerra em si o sentido da vida”, diz um personagem já perto do final do longa. Esse é o tema do filme, que, no fundo, é uma ode não apenas ao Palmeiras, mas ao esporte em si, em sua capacidade de despertar paixões, amizades e inimizades, dando um sentido à vida de muitos e muitas.