Conhecido por seus trabalhos no teatro e televisão, Aimar Labaki estreia na direção de longas com Cordialmente Teus, um filme de episódios que acompanha acontecimentos na vida de personagens, refletindo momentos da história do Brasil. No primeiro deles, no presente pandêmico, uma mulher (Debora Duboc) enfrenta dificuldades numa agência bancária por causa do detector de metais. Quando finalmente consegue entrar, confronta a gerente (Mariana Dias) por conta de uma dívida que subiu de maneira exponencial, enquanto seus investimentos nunca renderam na mesma proporção.
A partir daí, o longa vai e volta no tempo, em 10 episódios que se conectam tematicamente, trazendo retratos de opressão, violência e tensão de classe. Dessa forma, o longa mostra como certos elementos, nas formas mais distintas atravessam a história do país.
Com poucos cenários e personagens, filmados durante a pandemia, cada segmento se vale positivamente de uma estrutura teatral, que revela em sua encenação as mazelas que trouxeram o Brasil até aqui e deverão levar ao futuro. O último episódio se passa em 2066, quando se instaurou uma distopia.
A ditadura está presente em dois deles: no primeiro, um grupo de guerrilheiros (Edgar Castro, Natália Molina, Vinicius Albano) cuida de um embaixador sequestrado, e no outro, uma mulher (Agnes Zuliani) depõe sobre sua experiência como presa política que foi levada para a OBAN, onde ficou dois meses . A violência também se faz presente de forma bem explícita, na penúltima parte do filme, na qual um índio (Anderson Kari Baia) é preso e torturado por um português (Igor Kovalewski).
Com fotografia do experiente Jacob Solitrenick, o filme é constituído de diferentes visuais para cada época que, ainda assim, frisam as experiências constitutivas da nacionalidade marcada pela repressão e a diferença social.
