Joanne é aparentemente feliz com seu marido, um refugiado senegalês, e a filha pequena do casal. Tudo muda quando a menina desenvolve a estranha habilidade de distiguir odores de forma muito apurada. Nesse mesmo tempo, a chegada da cunhada traz lembranças dolorosas do passado. Após cheirar um estranho perfume, que encontrou na bolsa da tia, a menina é capaz de viajar ao passado.
- Por Alysson Oliveira
- 24/03/2023
- Tempo de leitura 2 minutos
A combinação de gêneros não é exatamente o forte da francesa Léa Mysius, embora não se possa dizer que ela não seja ousada. Isso ela é. Mas se funciona ou não é outra questão. Os Cinco Diabos é uma mistura de drama, terror e ficção científica marcado por um triângulo bissexual e interracial – o que não é pouco.
Adèle Exarchopoulos (de Azul é a Cor Mais Quente) interpreta Joanne, um dos vértices desse romance, que tem uma relação complicada com seu marido, Jimmy (Moustapha Mbengue), um refugiado senegalês. O casamento abala-se mais com a chegada de Julia (Swala Emati), irmã de Jimmy, com quem Joanne teve uma história no passado.
Em meio a tudo isso, há também a pequena Vicky (Sally Dramé), filha de Joanne e Jimmy, vítima de bullying racista na escola e que acaba de desenvolver uma estranha habilidade de sentir odores com muita facilidade. Após encontrar um misterioso frasco de perfume na bolsa da tia, essa capacidade a levará a viajar no tempo, podendo ir para o passado, e testemunhar crises envolvendo sua família.
Parece muito? Mysius, que assina o roteiro com o diretor de fotografia do filme, Paul Guilhaume, não se dá por satisfeita. No passado, Joanne e Julia foram loucamente apaixonadas, mas acabaram não ficando juntas por influência do pai da protagonista (Patrick Bouchitey). Esse passado também envolve um episódio de piromania, que deixou uma amiga delas, Nadine (Daphne Patakia), com o rosto marcado por uma cicatriz.
Tudo isso é embalado numa fotografia super-saturada e uma câmera alucinada, ambas assinadas por Guilhaume, e interpretações viscerais – especialmente de Exarchopoulos. É, enfim, um filme que as pessoas costumam chamar de intensos, mas também mal-resolvido em seus excessos narrativos e visuais. Mysius tem uma carreira estabelecida como roteirista, tendo trabalhado com Arnaud Desplechin, Claire Denis e Jacques Audiard, mas não se encontra na direção ao colocar elementos demais no filme – tal qual uma das poções mágicas que Vicky começa a fazer no quintal de casa.
Tudo é muito bem-feito, muito bem filmado, mas excessivo. Dessa forma, nada parece se aprofundar aqui. O passado de abusos e erros, que Vicky testemunha em suas viagens no tempo, o que deve dizer sobre o presente? Descobrir segredos da história de sua família permite que a menina cresça sabendo como evitar os mesmos erros? Nesse sentido, a imagem do filme pode ser reconfortante ou assustadora.