20/03/2025
Drama

Instinto materno

Alice e Celina são vizinhas e grandes amigas, mas a morte do filho de uma delas transforma essa amizade num jogo de paranóia.

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Neste suspense dramático com um toque de terror, as duas protagonistas, Anne Hathaway e Jessica Chastain, vivem papeis semelhantes - e intercambiáveis. É perfeitamente possível ver uma ou outra na pele destas donas-de-casa e mães dos anos 1960, imbuídas da cobrança de perfeição no desempenho da função de “rainha do lar”. 

Esse detalhe sustenta o equilíbrio no duelo entre estas que são duas das mais talentosas atrizes da atualidade, vivendo respectivamente Celine e Alice, vizinhas e amigas, dividindo os problemas do cotidiano e compartilhando a amizade dos filhos, Max (Baylen D. Bielitz) e Theo (Eamon Patrick O’Connell). Os meninos espelham a amizade das mães e crescem num ambiente protegido e sem sustos. Até que um dia um trágico acidente muda tudo e põe à tona uma dinâmica psicológica cada vez mais exasperante.

A direção do francês Benoit Delhomme manifesta um esforço, até certa altura, de não ser maniqueísta ao expor o crescente desequilíbrio de Celine para lidar com a morte do filho. Não se trata apenas de luto e dor. Ela passa a exibir um comportamento cada vez mais estranho, disputando as atenções do filho sobrevivente da amiga.

Este jogo é a espinha dorsal de um filme que aspira visivelmente muito, a partir da escolha destas duas excepcionais atrizes. Pouco será dado aos maridos, interpretados por Josh Charles e Anders Danielsen Lie, que permanecem coadjuvantes num jogo em que os perigos podem ser reais ou imaginários, mas indiscutivelmente colocam em xeque a sanidade de uma ou outra mulher. 

Diante da potência de Anne e Jessica, é de se lamentar que a história, em sua porção final, ceda às tentações de sustos fáceis e comprometa boa parte do que construiu antes com uma conclusão apressada e pouco crível. Chega a ser decepcionante como o filme embaralha as últimas sequências, extraindo um final até certo ponto previsível, mas que poderia ter sido atingido num caminho com menos tropeços. Se conduzido com um pouco mais de sofisticação dramática, Instinto Materno poderia muito bem constituir-se numa história capaz de discutir com mais densidade os perigos da obsessão levada às últimas consequências.

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