O documentário, assinado por César Charlone, Joaquim Castro e Sebastián Bednarik, capta bastidores de um momento crucial na história recente do País, ainda respingando seus resultados em muito do que se vive hoje - a campanha presidencial de 2018, que excluiu criminosamente o candidato mais bem colocado, Luiz Inácio Lula da Silva, e colocou no poder Jair Bolsonaro.
O foco do documentário é Fernando Haddad, aquele que, sendo vice de Lula, teve a missão de substituí-lo na corrida. Uma figura evidentemente nada desconhecida no cenário político, como ex-prefeito de São Paulo e ex-ministro da Educação, mas vivendo naquela altura um dos piores períodos da sua vida, no enfrentamento com o fascismo.
As imagens dão conta da proximidade de Haddad com alguns dos grandes dramas recentes do País, o maior deles, o lawfare que baseou a prisão de Lula e estendeu-se inclusive ao próprio Haddad - com o Ministério Público requentando uma descabida acusação de corrupção de quando ele era prefeito, envolvendo a UTC Engenharia.
Sem se deter nas minúcias de cada um destes embates, o filme opta por mostrar o candidato na intimidade, dentro de seu carro, em reuniões de campanha, reuniões do PT, entrevistas e também em sua casa, com sua família, sua mulher, Ana Estela, seus filhos, Fred e Carol, e também sua mãe, Norma Thereza (que morreu em 2023). Momentos que terminam sendo um retrato fiel da normalidade de uma pessoa tranquila, embora naturalmente angustiada com o turbilhão que varria o País.
Ao mesmo tempo que acompanha os capítulos que levaram ao impedimento e prisão de Lula, fornecendo um eixo temporal, o documentário expõe os posicionamentos que tornam cristalina a figura de Haddad - como sua luta contra a omissão da imprensa empresarial diante das inumeráveis fake news da campanha de seu adversário. As imagens deste oponente, aliás, servem como uma trágica lembrança da doença que acometeu este País há tão pouco tempo, elegendo-o - ainda que tenha seu valor a fala de Mano Brown sobre essa multidão de eleitores de Bolsonaro, dizendo que “eles não viraram monstros” e que houve falhas na comunicação da esquerda para conquistá-los. Tudo isso tem seu sentido como reflexão, evidentemente, mas assistir a este documentário funciona, acima de tudo, para refletirmos sobre que Brasil teria existido se Haddad e Manuela D’Ávila tivessem vencido aquela eleição. Os números do que tivemos falam por si: o País voltou ao mapa da fome, o desmatamento atingiu níveis recorde e pelo menos 700.000 pessoas morreram de covid, como é citado nos letreiros finais. Não, este não é um documentário que busca ser imparcial. Nem esta jornalista.