Estreante em longas de ficção, Haroldo Borges traz no currículo o roteiro e a direção de fotografia do premiado documentário Jonas e o Circo sem Lona, da diretora Paula Gomes - que aqui funciona como produtora. Tanto quanto naquele trabalho como em Filho de Boi, há uma criança ao centro, cuja sensibilidade e processo de amadurecimento a história procura acompanhar.
João (João Pedro Dias) é um garoto de 13 anos, que vive com o pai (Luiz Carlos Vasconcelos), um vaqueiro e sitiante rude, de poucas palavras, numa casa sem mãe, sem mulher.
Solitário, João é de pouca brincadeira, ocupando seu tempo quase todo ajudando esse pai difícil, endurecido. Por conta disso, o menino é zoado pelas outras crianças da região. É como se ele não soubesse também falar, não soubesse brincar, falhando em estabelecer um contato com os garotos da mesma idade.
Rompe a rotina local a chegada de um circo, um mundo mais solto, colorido e anárquico que exerce uma poderosa atração sobre João. Ali dentro, ele enxerga pessoas mais livres, que se vestem e se comportam de jeitos que ele nunca viu. Ele termina interessando-se pela arte dos palhaços - em tudo o oposto de seu pai, que quase nunca pára de trabalhar (apenas toca uma sanfona de vez em quando).
Muito singelo, o filme funciona nesse choque familiar não-declarado entre pai e filho, que se desenvolve na maior parte do tempo sem palavras, remetendo a um universo primitivo, rural, ancestral, em que a arte oferece algumas janelas para a expressão.