Estranhas conexões permeiam O Exorcismo que talvez pudessem trazer camadas para o filme, mas não é o caso. O diretor do filme, Joshua John Miller, é filho do ator Jason Miller, que interpretou o padre Damien Karras no clássico O Exorcista. Isso torna o longa ainda mais curioso pois o protagonista, interpretado por Russell Crowe, é um ator interpretando um exorcista.
Com roteiro escrito por Joshua John Miller e seu parceiro M.A. Fortin, esse é um filme totalmente sem rumo que se contenta em ser um sub-terror bebendo direto da fonte de O Exorcista sem nem se dar ao trabalho de disfarçar. Homenagem ao seu pai, o cineasta nomeia o protagonista de Anthony Miller, um ator que mergulhou numa espiral de alcoolismo e decadência desde a morte de sua mulher, e nunca mais conseguiu trabalho. Sua grande chance de retorno triunfal acontece quando o ator que interpretaria um exorcista num filme morre em circunstâncias misteriosas.
No teste, Anthony não vai muito bem, mas o diretor, Peter (Adam Goldberg), vê nele o ator ideal para o personagem, especialmente por conta de seus traumas recentes. Nesse mesmo momento, a filha do ator, Lee (Ryan Simpkins), é suspensa do colégio interno onde estuda e é contratada como assistente do pai no set.
No filme-dentro-do-filme, Anthony é o padre Arlington, contatado para exorcizar uma jovem possuída pelo demônio (Chloe Bailey). No set há um padre real, Conor (David Hyde Pierce), que serve como consultor, e deverá ajudar o ator a encontrar seu personagem. Já Sam Worthington interpreta Joe, um ator que faz papel de um padre colega de Arlington, um personagem, como se mostrará, totalmente descartável.
A trama desse segmento nem se dá ao trabalho de disfarçar o quão próxima é de O Exorcista. Há alguns planos até parecidos, fazendo O Exorcismo caminhar na linha tênue entre a homenagem e o pastiche. Sem fugir das convenções do subgênero de exorcismo, o longa se apoia em cenários pouco iluminados ou em sustos baratos. A construção da trama é frágil encontrando sua razão de ser na inexplicável possessão de Anthony enquanto roda o filme. Já uma subtrama envolvendo o trabalho dele como coroinha na infância é mal explicada e mal aproveitada.
Esse é o segundo exorcista interpretado por Crowe em pouco mais de um ano. Em O Exorcista do Papa, ao menos, era um filme mais divertido, um longa de ação e suspense disfarçado de terror. Era previsível, mas era assistível e sua trama, coerente dentro da sua proposta – diferente deste aqui que se perde antes mesmo do exorcista entrar em cena.