Vencedor do Oscar de melhor filme em 2014 pelo drama 12 Anos de Escravidão, o diretor britânico Steve McQueen voltou ao documentário - que ele havia visitado brilhantemente em Small Axe (2020) [Small Axe: Educação, Small Axe: Os Nove de Mangrove, Small Axe: Lovers Rock, Small Axe: Vermelho, Branco e Azul, Small Axe: Alex Wheatle]-, agora com o contundente Occupied City, que teve sua première mundial no Festival de Cannes 2023.
Em alentadas quatro horas e meia, o cineasta resgata episódios e personagens da Amsterdã ocupada pelos nazistas, nos anos 1940, que culminou num massacre de judeus numa proporção particularmente alta - havia ali cerca de 800.000, dos quais morreram cerca de 600.000, ali mesmo ou em campos de concentração.
Apoiado nas pesquisas rigorosas de sua mulher, a roteirista holandesa Bianca Stigter, autora do livro Atlas of an Occupied City (Amsterdam 1940-1945), McQueen recorda nomes tanto de vítimas, quanto dos resistentes, quanto de seus algozes, a partir de endereços da capital holandesa. O estilo escolhido pelo diretor é de repetição e acúmulo, mas esta é uma estratégia. Não importa que o público não seja capaz de guardar os nomes nem decorar os fatos mencionados, e sim que seja capaz de absorver o processo, observando as conexões da História, as ligações do passado com a contemporaneidade, igualmente dramática.
Não entram por acaso as imagens do lockdown da pandemia, da repressão policial aos manifestantes contra ele e contra a vacina, nem os rostos de refugiados que procuram na Europa alívio para tantas guerras que abalam seus lugares de origem. McQueen procura situar os muitos conflitos humanos que acontecem na mesma geografia, com a mesma radicalidade, apesar das épocas e contextos tão diferentes.