O que o filme tem de mais positivo é retratar um universo de garotas trabalhadoras, Anne Marie e suas colegas Eden (Michelle Rodriguez) e Len (Sanoe Lake), que dão duro como camareiras num resort de luxo no Havaí (onde mais?) para sustentar o sonho de acontecer como surfistas, treinando antes do raiar do sol. Cai muito bem esse toque de realidade, onde as heroínas têm de pagar aluguel e Anne Marie assume uma responsabilidade extra: cuidar da irmã caçula (Mika Boorem), deixada para trás pela mãe das duas, que preferiu curtir a vida com um namorado.
Detalhes como esse nem sempre freqüentam roteiros de aventuras praieiras, mas esta veio de um artigo jornalístico, Surf Girls of Maui, de Susan Orlean. Mas nem por esse parentesco com o real o filme passa ao largo de clichês. A heroína principal é uma típica lourinha bonitinha de Hollywood, numa história moldado pela luta pelo sucesso, a busca de superação, o conflito entre a paixão e o sucesso profissional. Pelo menos, há a vantagem de que a turma de amigas é multiétnica e o herói romântico (Mattew Davis) é devidamente atualizado, mesmo sendo um jogador de futebol americano, protótipo machista reconhecível à primeira vista na cultura de massas dos EUA.
Apesar disso, o filme resguarda uma certa dignidade. As garotas são de carne e osso, têm energia, empatia e literalmente seguram qualquer onda. Elas é que são meninas superpoderosas.
De quebra, não faltam boas tomadas com câmeras colocadas dentro das ondas espetaculares em North Shore, Oahu - e que as notas da produção garantem que foram todas feitas no mar mesmo e não em tanques d´água de estúdio. Fazem pontas com seus nomes verdadeiros lendas do surfe profissional feminino, como Keala Kennedy, Layne Beachley e Kate Skarratt. O diretor John Stockwell mantém assim uma boa folha de serviços. Para quem não lembra, Rock Star é um de seus bons trabalhos anteriores.
Cineweb-17/1/2003