21/01/2025
Drama

Irreversível

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Na competição oficial do Festival de Cannes 2002, este filme foi o concorrente que melhor concretizou o marketing do escândalo anunciado. Desde o início daquele festival, toda a imprensa local só falava nele, por conta de uma polêmica cena de estupro, protagonizada pela musa italiana Monica Bellucci. No final, o escândalo foi uma profecia que se auto-cumpriu. Irreversível, de Gaspar Noé, passou por lá como um furacão, que incomodou mesmo platéias experientes, como os jornalistas que cobrem vários festivais todos os anos. Alguns saíram já nos primeiros dez minutos da projeção inaugural.

Mas a reação a Irreversível era para tanto? Por partes. A seqüência inicial pula mesmo na goela do espectador mais preparado. Ainda não é a famosa cena do estupro da belíssima Monica Bellucci - que, aliás, é seguida de um espancamento feroz. Com uma câmera mais nervosa e instável do que a turma do Dogma 95, o filme do cineasta argentino radicado na França mostra uma seqüência inicial numa boate gay do submundo, chamada Rectum. Sem que ninguém saiba ainda porquê, Marcus (Vincent Cassel) procura desesperadamente por um certo Tenia (Jo Prestia), passando por diversas cenas de sodomia e sadomasoquismo na sua descida pelos degraus desta verdadeira filial do inferno. Quando encontra o sujeito, ocorre uma das mais brutais cenas de pancadaria que o cinema já mostrou frontalmente, da qual participa o amigo de Marcus, Pierre (Albert Dupontel).

O filme conta sua história de trás para a frente - nenhuma novidade, exatamente como já se viu em Amnésia, de Christopher Nolan, e outros. Assim, o que se vê é primeiro uma sangrenta vingança. Depois, o motivo dela - o estupro, mostrado com todos os requintes de brutalidade e humilhação capazes de torná-lo repulsivo. Quem sobreviver a essa primeira metade do filme, verá a parte mais doce - o passado em comum de Marcus, Pierre e Alex (Monica Bellucci), que foi primeiro namorada de um, depois do outro, o que não impede que sejam um inseparável trio de amigos.

No começo e no final do filme, o diretor invoca uma frase: "O tempo destrói todas as coisas". O epíteto serviu de mote para um dos jornalistas italianos presentes em Cannes (um dos grupos que mais vaiaram o filme de Noé), que fuzilou: "Espero que o tempo também destrua este filme!". Difícil mesmo acreditar que Irreversível demonstre potencial para durar mais do que uma estação. É polêmica de encomenda, explorando questionavelmente o limite do apelo à vingança com as próprias mãos. Embalado em violência estilizada, desafia os limites de tolerância do público e procura apenas dar visibilidade instantânea ao seu diretor.

Agora fica com o público brasileiro a palavra final. Em geral, não há meio-termo. As pessoas amam ou detestam este filme.

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