Documentário redescobre a música da brasileira Lea Freire
- Por Alysson Oliveira
- 19/07/2024
- Tempo de leitura 3 minutos
Lea Freire, em cena do filme (Crédito: Divulgação/Caroline Bittencourt)
O diretor Lucas Weglinski observa que uma das frases que ele mais tem ouvido ultimamente, desde que seu filme A música natureza de Lea Freire começou a circular, foi: “Eu não conhecia a Lea Freire”. Em resposta, ele acena com a cabeça e diz: “Eu também não”. Sua descoberta aconteceu quando veio para São Paulo e montava
Máquina do Desejo, documentário sobre o Teatro Oficina, premiado no Festival É Tudo Verdade de 2022.
Ele ficou emocionado ao ouvir uma gravação dela com a Orquestra Sinfônica da Unicamp e, pouco depois, por acaso, conheceu-a pessoalmente. Lea lhe contou que queria fazer um filme-disco e precisava de um cineasta. “Nesse processo, viajamos para diversos países. Percebi como ela era conhecida e reverenciada fora do Brasil, e aqui quase ninguém a conhece, apesar dos 50 anos de carreira. Achei que isso merecia um filme”.
Dessa experiência nasceu A música natureza de Lea Freire, que resgata não apenas a trajetória musical da musicista – que é compositora, flautista, e, no longa, também mostra seu lado pianista – mas também seu envolvimento com trabalhos sociais, como quando, na juventude, ia à Febem ensinar música aos jovens. Hoje, ela participa do Projeto Guri, com a mesma atividade.
No filme, Lea se abre, contando desde sobre a resistência da família por sua opção pela flauta. Mas a pergunta que realmente fica no ar é: como essa artista tão importante recebe tão pouco reconhecimento no Brasil? Weglinski ressalta que já pensou sobre isso diversas vezes, e ensaia algumas explicações. “Existe uma hegemonia masculina na música orquestral e instrumental. Quando a Lea começou, havia umas cinco mulheres tocando, e hoje, são entre 50 e 100, o que ainda é pouco se comparado com o número de homens na área.”
Como no cinema, explica ele, o cenário não é de muito acolhimento às mulheres. “Lea sempre era comparada a algum homem. A ‘Tom Jobim de saias’, ou algo assim. Porém, as novas gerações estão vindo com muita força e, creio, a tendência é mudar essa realidade. A própria Lea pensa isso também.”
Filmando entre 2018 e 2022, Weglinski conta que só conseguiu concluir o filme graças ao edital Aldir Blanc, com o qual foi contemplado durante a pandemia. Muitas das entrevistas, inclusive, foram feitas nesse momento, na casa dele, com uma equipe pequena, respeitando o distanciamento e só os entrevistados sem máscara. Fora isso, ele também contou com material de arquivo da família de Lea, da TV Cultura e SESC TV, que autorizaram o uso sem cobrar pelos direitos. “Todos os shows e concertos vieram desse material, que era extremamente bem filmado.”
Muitas contribuições vieram de amigos de Lea. Foi a cantora Alaíde Costa, por exemplo, quem lembrou do trabalho que elas duas, ao lado de Filó Machado, faziam nas Febems, quando Lea ainda era adolescente. Agora, o filme também assume uma função social, além de cinematográfica. “Vamos apresentar o documentário em diversas cidades do Brasil. E a Lea sempre irá também, e fará oficinas para jovens. Para ela, a educação é libertária, e ela sempre diz que aprende mais com os jovens do que eles com ela nessas oficinas. Ela tem paixão pela nova geração.”