16/03/2025

Documentário resgata histórias dos bailes do movimento Black Rio

Emilio Domingos, diretor do documentário Black Rio! Black Power! (Crédito: Divulgação)

Em Black Rio! Black Power!, o documentarista Emilio Domingos revisita um momento importante da cultura do Rio de Janeiro, o movimento Black Rio, que deixou sua marca entre as décadas de 1970 e 1980. Os bailes de soul music foram fundamentais para que o movimento se firmasse.

“Eu sempre ouvi falar desses bailes, era algo até mítico”, explica o cineasta em entrevista ao Cineweb. “Até fazer o filme, eu não tinha a real dimensão disso”.

O projeto do longa começou com uma consultoria sobre os 50 anos do baile na cidade e, a partir daí, Domingos percebeu que havia uma lacuna na documentação. Uma das figuras centrais dos bailes era um amigo seu: Asfilófio de Oliveira Filho, mais conhecido como Dom Filó, ativista, DJ, produtor cultural e documentarista, entre outras coisas, que criou a equipe de som Soul Grand Prix, que tocava a música negra estadunidense da época, o soul e o funk..

Para fazer o filme, Domingos reúne no antigo salão de baile – hoje uma quadra esportiva – pessoas que os frequentavam, resgatando suas histórias em primeira pessoa. “Para mim, é um privilégio gigantesco trabalhar com esse tema, entrar nesse universo e conhecer essas pessoas.”

Os bailes, conforme é narrado no filme, sofreram um apagamento com a ausência de registros, além de terem sofrido duras críticas na imprensa da época e perseguição pela ditadura. “Havia muito medo de que dali nascesse um


grupo de Panteras Negras brasileiro. Imagina, milhares pessoas num salão falando de negritude, se afirmando como negro?”

Foto de arquivo dos bailes Black Rio (Crédito: Divulgação/Agência O Globo)

Por motivos como esses, os bailes foram esquecidos, mas Domingos recupera histórias pessoais que se tornam políticas pelo prisma do filme.Black Rio! Black Power! forma dupla com o documentário Chic Show, dirigido por Domingos e Felipe Giuntini, disponível na Globoplay, sobre os bailes de São Paulo criados em 1968, sob o comando de Luiz Alberto da Silva, o Luizão.

“O Luizão e o Dom Filó são figuras incríveis e importantes para o movimento negro no Brasil. Eram visionários que perceberam a oportunidade para a cultura negra. O trabalho deles é inspirador”.

Ambos os filmes, além de trazer à tona momentos importantes da história negra no país, são sobre e para a juventude. “É uma maneira de mostrar para os jovens de hoje o aprendizado do passado e projetar para o futuro. São histórias que modificam o presente.”

Em Black Rio! Black Power!, Domingos aponta a criação de uma memória coletiva por meio da tradição da história oral. Para ele, apenas esses depoimentos em primeira pessoa podem trazer algo de sensorial para o filme. “São senhores e senhoras na frente da câmera, de volta àquele lugar mágico de seus passados. E, quando tocam a música, voltam a ser jovens. O que valoriza o filme é exatamente essa memória, a relação subjetiva com o baile.”