08/02/2025

Isabel Bigelow (Nicole Kidman) é uma bruxa que tenta levar uma vida normal. Jack Wyatt (Will Ferrell) é um ator decadente que tenta recuperar o sucesso fazendo um remake da série de TV “A Feiticeira”. Enquanto procura uma atriz para o papel de Samantha, encontra Isabel – sem saber que ela é a escolha perfeita para fazer uma bruxa. Ela acaba se apaixonando por ele, enquanto o programa enfrenta as maiores dificuldades para decolar.

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Por incrível que pareça, a idéia estapafúrdia da premissa do filme A Feiticeira é o que melhor funciona no roteiro escrito pela diretora Nora Ephron (Sintonia de Amor), e sua irmã Delia, baseado nos personagens criados por Sol Saks para a série de TV lançada nos anos 60. Um astro decadente do cinema, Jack Wyatt (Will Ferrell) resolve fazer um remake do programa de TV. Para isso, ele precisa encontrar a estrela ideal. Eis que esbarra em Isabel Bigelow (Nicole Kidman), uma bruxa de verdade que está tentando abandonar o mundo da magia e levar uma vida de humana. Mas ele não sabe disso, claro. Ela aceita o papel e se apaixona por ele. Mas o ator só pretende usá-la como escada para si, que será o astro do show.

Com essa premissa mirabolante, as roteiristas encontraram espaço para coisas bem interessantes, principalmente quando querem criticar a TV – e a mídia em geral –, que cria suas celebridades instantâneas, ou os egos inflados de pessoas sem talento, que com um pouco de sorte conseguem destaque na TV ou mesmo no cinema. Essas idéias são exploradas de forma light e muitas vezes engraçada. O problema do filme é que esta é uma comédia romântica. E as coisas dependem de muito mais do que um feitiço num caldeirão para que o romance seja realmente bom.

O roteiro se perde exatamente no último ato, quando a verdade vem à tona – isso não é nenhuma novidade, porque em Hollywood a verdade sempre tem que ser revelada. Por pouco mais de uma hora, A Feiticeira é uma bobagem divertida e sem pé nem cabeça, especialmente em torno das trapalhadas de Isabel tentando se adaptar ao mundo dos humanos.

Nicole Kidman (fazendo a segunda feiticeira de sua carreira – a primeira foi em 98, com Da Magia à Sedução), com sua beleza etérea, parece mesmo que veio de outro mundo. Seus gestos delicados, sua voz rouca (seria um problema na garganta?) e suas explicações sobre o abandono do mundo dos bruxos são sempre convincentes, ou, no mínimo divertidas). Os encontros esporádicos com seu pai Nigel (Michael Caine), um conquistador barato que usa magia para ficar com meninas mais novas, garantem alguns bons momentos.

Quando começa a ser gravado o programa de TV e Jack, no papel de Darrin, tentando a todo custo impedir que Samantha, ou melhor Isabel, apareça, gera momentos de humor rasgado, graças também a um Will Ferrell bem mais contido do que o normal – ao menos, na maior parte do tempo. Em alguns momentos chega até a existir uma química entre a dupla. Embora muitas vezes quem roube a cena seja Shirley McLaine, no papel da decadente atriz que interpreta Endora (mãe de Samantha) na série.

Quando lançada em 64, a série A Feiticeira era uma espécie de I Love Lucy para os novos tempos. Diferente de Lucy Ricardo (que só reclamava e fazia deliciosas trapalhadas), Samantha tinha poderes sobre o seu marido, mas só o usava quando tinha algum interesse.

No entanto, no século XXI, esse estratagema é muito vago para simplesmente segurar um casamento, que dirá um filme. Nesse caso é que é vale a idéia das roteiristas de pensar na metalinguagem dentro do filme. No entanto, não dá para segurar uma comédia de mais de uma hora e meia apenas se agarrando nessa ferramenta – era preciso criar uma história, no final das contas.

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