O filme padece exatamente dos mesmos erros que estão no livro, foi lido por mais de 40 milhões de pessoas em todo o mundo. Excesso de explicações transformam as duas obras num discurso verborrágico chato e confuso. Na publicação, porém, há a vantagem de poder voltar algumas páginas caso não se tenha entendido alguma coisa.
Para a meia dúzia de pessoas que ainda não leram o livro, o roteiro pode trazer alguma surpresa, porém, aqueles que conhecem a obra vão ver apenas a versão ilustrada daquilo que foi lido. Nesse caso, vale mais gastar um pouco mais, e comprar a edição ilustrada do livro que já foi lançada no Brasil.
Tom Hanks (com um corte de cabelo bizarro) assume o papel do simbologista Robert Langdon que está fazendo uma palestra em Paris quando é contatado pela polícia local para ajudar a resolver o assassinato do curador do Louvre que foi encontrado morto no museu. O corpo está cheio de símbolos (feitos pela vítima pouco antes de dar seus últimos suspiros!). Um detetive local (Jean Reno) vê Langdon como o principal suspeito.
Mas entra em cena Sophie Neveu (Audrey Tautou), criptógrafa da polícia francesa e neta da vítima, que acredita na inocência de Langdon e que seu avô possa ter deixado algumas pistas para localizar o assassino. Os dois embarcam numa jornada fugindo da polícia e seguindo as dicas deixadas pelo curador do museu.
Decifrar esse código pode abalar as estruturas da Igreja Católica e a fé de milhões no mundo todo. Até porque, aparentemente, as pessoas estão abertas a aceitar quaisquer novidades, visto o barulho que o livro fez em todo o mundo católico por ‘trazer novos fatos’ sobre a vida de Jesus Cristo. O autor Brown nunca alegou que o seu livro fosse real – pelo contrário, sempre disse que é ficção. Mas a verdade é que os produtores e os distribuidores gostaram da polêmica e ficaram a alimentando por meses, para continuar com o assunto nos jornais. Até no Brasil, um político tentou proibir o filme, afirmando que zomba da fé das pessoas.
É preciso uma boa dose de ingenuidade para embarcar nas suposições do livro e do filme. O que mais faltou a Brown e a Howard foi confiar na inteligência de seu público. As duas obras não deixam espaço para que a platéia decifre algo, complete lacunas. Está tudo nas páginas e fotogramas de O Código Da Vinci.
O roteiro, escrito por Akiva Goldsman (parceiro recorrente de Howard) muda a ordem de algumas cenas do livro, e deixa de fora alguns fatos e personagens. Mas não é por esses motivos que o longa tem tudo para desagradar os fãs da publicação. O Código Da Vinci nunca alça vôos como filme. Algumas resoluções visuais chegam a ser constrangedoras – principalmente algumas fusões, com as quais espera-se juntar passado e presente. Nem as belas locações, como o Louvre e Paris (tudo filmado in loco) ajudam – são apenas desperdiçadas.
Da Vinci, que dá título a obra, pouco tem a ver com a história mesmo. Assim como suas obras. A “La Gioconda”, que aparece na capa do livro, e no teaser do filme, por exemplo, faz uma participação de menos de um minuto. O romance, que se tornou um fenômeno pop do início do século, deixa a questão de até onde o longa vai conseguir se comunicar com dois tipos de público: os que leram a obra, e os que não leram. Porém, Da Vinci parece ter rogado uma praga por ter tido o nome usado em vão. O filme O Código Da Vinci não consegue se comunicar com ninguém.