21/03/2025
Romance Drama

O Amor Nos Tempos do Cólera

Na virada do século XIX para o XX, um humilde funcionário do correio, Florentino Ariza, apaixona-se por Fermina Daza, filha de um bruto comerciante. Vários incidentes os separam, mas ele nunca desistirá de esperá-la, por mais de 50 anos.

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Depois do sucesso internacional de Central do Brasil, que lhe valeu o prêmio de melhor atriz no Festival de Berlim em 1998 e também uma indicação ao Oscar de melhor atriz no ano seguinte, Fernanda Montenegro vem sendo insistentemente cortejada pelo mercado internacional. A veterana atriz, enérgica e vivaz como sempre em seus 78 anos, resolveu aceitar o convite do inglês Mike Newell, fazendo de O Amor nos Tempos do Cólera sua estréia num filme internacional, falando inglês.

O convite foi atraente. Afinal, era certamente promissor estrelar uma adaptação de um dos mais famosos romances de Gabriel García Márquez, ao lado de um elenco encabeçado pelo ator espanhol Javier Bardem, sob a direção do versátil diretor de Quatro Casamentos e um Funeral (94) e Harry Potter e o Cálice de Fogo (2005).

Feito o filme, o resultado não se mostrou à altura nem do livro, nem de Fernanda nem de Javier – os dois atores, aliás, são das melhores coisas dentro do filme, vivendo mãe e filho, Tránsito Ariza e Florentino Ariza, ele o protagonista desta incrível história de uma paixão que sobrevive a cinco décadas de desprezo e amargura. Os defeitos da adaptação podem ser creditados quase todos ao mesmo Newell, que não teve uma compreensão adequada do universo latino, fazendo escolhas quase sempre equivocadas de tom, que levam o filme às vezes para um lado mais folclórico do que o devido.

A obra de García Márquez é, certamente, de uma dificuldade de transposição quase insuperável para o cinema. Diretores mais refinados do que Newell já tropeçaram antes em suas histórias, caso, por exemplo, de Ruy Guerra em Erêndira (83) e A Fábula da Bela Palomera (88), embora tenha sido mais feliz em O Veneno da Madrugada (2004).

Ainda assim, ganharia o filme de Newell caso fosse falado no idioma espanhol – ser falado em inglês torna-o mais comercializável, mas introduz um toque artificial nos diálogos, especialmente diante de platéias latinas. Melhor sorte teria se evitasse alguns erros de casting nos papéis mais cruciais. O maior deles está na protagonista, a italiana Giovanna Mezzogiorno, bela e competente atriz, mas que se mostra fria demais na pele da indomável Fermina Daza. Talvez o equívoco fosse menos notado se ao seu lado não estivesse a colombiana Catalina Sandino Moreno (indicada ao Oscar por Maria Cheia de Graça), que rouba a cena como sua prima Hildebranda.

O mais grave é que o diretor inglês não soube encontrar o tom que traduzisse a ambivalência do mundo criado por García Márquez, que une o romântico ao ridículo, o sublime ao devasso, o torpe ao cômico com uma maestria que lhe valeu o Prêmio Nobel de Literatura. Encontrar o equivalente cinematográfico para o rico mundo do escritor colombiano mostrou-se tarefa além das forças do cineasta. Sem ser de todo ruim, o filme não tem a força que a história permitiria esperar.

Além de Fernanda, o filme conta com a participação de outros dois brasileiros – o diretor de fotografia Affonso Beato e o compositor Antonio Pinto, este último autor da melodia da canção Despedida, que tem letra de Shakira e concorre ao Globo de Ouro 2008.

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