25/04/2025
Drama

Romance

Ana e Pedro são atores numa montagem teatral de "Tristão e Isolda", em que ele também é diretor. Os dois se tornam amantes. Quando ela recebe o convite de atuar numa novela, surge uma crise na arte e na vida.

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A primeira delícia de Romance é sua liberdade narrativa. O enredo brinca com tudo: com a linguagem teatral, televisiva, cinematográfica; com a paixão, o ciúme, o acaso, a fatalidade. O roteiro de Guel Arraes e Jorge Furtado, abençoada parceria, especializa-se, assim, não só em remover fronteiras, como as de gênero – este filme é o quê, mesmo? -, mas também reinventar as regras de sua própria história, virando-as pelo avesso. Ambição inegavelmente grande.

Falando de amor sem nunca querer deixar de falar da arte, parte-se de uma encenação teatral da lenda medieval de Tristão e Isolda, amantes trágicos precursores de Romeu e Julieta, para capturar as incertezas da paixão de seus encenadores, a atriz Ana (Letícia Sabatella) e o diretor Pedro (Wagner Moura). Trabalho e vida se entrelaçam irremediavelmente. Ana e Pedro amam-se no palco e na vida sem maiores tropeços até o dia em que ela recebe um convite de estrelar uma novela.

Aceitar o convite do produtor Danilo (José Wilker) significa entrar direto na ponte aérea – o teatro fica em São Paulo, a emissora de TV, no Rio. Mais que a distância geográfica, o convite dá ocasião a um divórcio de interesses. Entre a novela e a peça, intromete-se o veneno do sucesso e discordância sobre o que é nobre ou não entre as duas mídias. Depois de uma ruptura e uma doída separação, Ana e Pedro se reencontram – na TV. Agora, é ele quem é convidado para dirigir algo no meio que ele despreza. E ele sugere uma remontagem de Tristão e Isolda como minissérie em ritmo de saga nordestina.

Nessa montagem na TV, Guel Arraes e o elenco de atores globais – Andréa Beltrão, Marco Nanini e Wladimir Brichta também a bordo – evidentemente usam de sobra o seu conhecimento da televisão brasileira para criar situações irônicas, mas também para discutir os vícios e pedantismos de sua própria classe – e a graça de tudo cresce ao se pensar em quem eles são fora do filme.

O melhor de tudo é que Romance, ao fazer sua própria metáfora, não perde de vista os sentimentos. Há momentos em que o filme genuinamente comove. Não é uma mistura fácil de obter, mas aqui, o resultado é primoroso. Romance é certamente um dos grandes filmes do ano.

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