Às vésperas da aposentadoria, Jerry investiga o assassinato de uma garotinha de oito anos. Num local pequeno, em que todos se conhecem, a descoberta é brutal. Ninguém tem coragem de dar a notícia aos pais, exceto ele. Esta decisão o amarra ao caso, já que ele promete à mãe que descobrirá o matador da menina, "pela salvação de sua alma", como ela exige. A partir daí, a promessa contaminará seus dias como uma maldição.
Black descarta o encerramento do caso, com a prisão e confissão do único suspeito (Benicio Del Toro). Compartilha suas dúvidas e as pistas que seguiu ao colega encarregado do inquérito (Aaron Eckhardt), mas ele se recusa a reabri-lo. Aposentado, Black compra um posto de gasolina que fica bem no cruzamento de algumas estradas, um ponto de observação que, acredita ele, lhe dará condições de um dia interceptar o verdadeiro culpado, cujo perfil ele acredita conhecer a partir de um desenho deixado pela menininha morta e de suas próprias conversas com uma psicóloga (Helen Mirren).
Black é relativamente distraído deste que é agora o objetivo de sua vida quando oferece refúgio a uma jovem garçonete, Lori (Robin Wright Penn), que escapa com sua filha pequena, Chrissy (Pauline Roberts), de um ex-marido espancador. O envolvimento com Lori e a menina dão ao velho policial uma nova perspectiva. Todas as implicações desse relacionamento com sua velha promessa permitem que a história escape do figurino tradicional do filme policial e do romance banal, levantando questões existenciais de uma profundidade sempre muito sóbria, iluminada pelas performances enxutas deste elenco verdadeiramente exemplar. Penn brinda seu público com um trabalho que nunca escolhe o caminho óbvio e foge da mesmice hollywoodiana como o diabo da cruz. Mostra-se, assim, um artista tão veemente quanto a sua militância política.
Cineweb-1/5/2003