21/03/2025
Comédia

Fogo e Paixão

Duas mulheres embarcam numa excursão que passeia por pontos turísticos da cidade. Uma delas está em busca de um marido, a outra, por sua vez, reclama de tudo. Cada nova parada, fatos inusitados acontecem.

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Possivelmente, uma das maneiras mais proveitosas de se aproximar de Fogo e Paixão, clássico cult de 1989, é como um olhar de uma época, um túnel do tempo. A imagem envelhecida, as interpretações um tanto engessadas, nada disso atrapalha o prazer e a fruição de assistir a um filme que parece vindo direto do túnel do tempo. Pelo contrário, tudo isso é índice e sintoma de um momento – final dos anos de 1980.
 
Era quando o falso glamour do neon da noite paulistana dava a ideia de (falsa) sofisticação. Escrito e dirigido por Marcio Kogan e Isay Weinfeld, dois arquitetos que tinham feito um curta também cult (Idos com o vento), Fogo e Paixão é uma comédia assumidamente pós-moderna (outro claro sintoma daquela década), que tem como guia a cidade de São Paulo – o que não é nenhuma surpresa, dada a formação dos diretores.
 
Uma excursão por uma cidade inominada leva um grupo de desconhecidos de diversos países a pontos turísticos. Entre eles estão as brasileiras Vilma (Mira Haar) e Helena (Cristina Mutarelli), duas mulheres que veem no passeio a possibilidade de encontrar um amor. Este se materializa na figura de um barão, interpretado por Carlos Moreno. A esse trio de personagens, une-se um homem misterioso com uma pasta executiva da qual ele não larga por momento algum.
 
O passeio é marcado por lugares famosos de São Paulo, como Parque do Ibirapuera, Bienal, Minhocão e Parque da Independência, além de pequenas pontas de atores e atrizes famosas, como Fernanda Montenegro, Regina Casé, Paulo Autran, Rita Lee – que, ao lado de seu marido, Roberto Carvalho, tem uma das melhores cenas do longa. São pequenas aparições pontuais, mas marcantes, que trazem sempre uma carga de humor ao filme.
 
Kogan e Weinfeld se valem da arquitetura da cidade como forma de trazer elementos estéticos e narrativos ao filme. A cidade é uma espécie de personagem que muito observa seus companheiros em cena, mais do que servir de palco a eles – como na Cripta Imperial, no subsolo do Monumento à Independência, onde acontece uma cena climática do filme.
 
Olhar Fogo e Paixão agora é rever um Brasil que passou por altos e baixos ao longo dos mais de 30 anos que separam o lançamento do filme do presente. Um país que passou por grandes transformações, mas que, no momento, parece ter voltado, ou não ter saído, dos anos de 1980, com tudo o que havia de pior naquela década. O longa de Kogan e Weinfeld funciona tanto como um índice disso como também uma gota de esperança de que a transformação é possível.
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