14/12/2024
Drama

Paixões Recorrentes

Próximo ao início da II Guerra Mundial, um grupo de pessoas de diversas nações está numa praia isolada no litoral do Brasil. Suas paixões ideológicas e políticas são fortes, e cada um e cada uma defenderá aquilo em que acredita.

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Uma das principais cineastas brasileiras, Ana Carolina faz da História a força de suas narrativas. Em filme situados no passado – como Amélia ou o documentário Getúlio Vargas – quanto outros no presente – Mar de Rosas, Sonho de Valsa, Das tripas coração –, o peso do movimento histórico recai sobre os personagens. Em seu novo trabalho, Paixões recorrentes, não é diferente, mas aqui a diretora une as duas pontas: usa o passado para falar do presente.
 
Numa praia isolada na costa brasileira, em 1939, às vésperas da Segunda Guerra, está um grupo de personagens peculiares. Uma atriz francesa, Madame Arras (Thérèse Cremieux), burguesa e comunista; um jovem português, Raolino Pombal (Pedro Barreiro), capitalista e com resquícios colonialistas; um comunista radical argentino, Chango (Luciano Cáceres); um integralista brasileiro, Souza (Danilo Grangheia); o empresário da atriz (Luiz Octávio Moraes), um capitalista sem dinheiro; um brasileiro, Beleza (Iran Gomes), e uma jovem portuguesa, Amada (Silvana Ivaldi).
 
Ana Carolina, que também assina o roteiro, vale-se dessas figuras para acessar aquilo que ela chama de paixões políticas recorrentes. As personagens são apaixonadas por suas ideologias. O que começa com Raolino correndo atrás de sua amada, que tem o sugestivo nome de Amada, logo se transforma em um debate político/ideológico, que, não demora muito, se materializa num falatório sobre essas paixões.
 
É bem claro no que a diretora e roteirista está mirando aqui: no estado do Brasil atual, transitando desde o capitalista sem capital até o sujeito assumidamente fascista, passando pela esquerda intelectualizada e rica, na figura da atriz, ao colonialista estrangeiro, e as pessoas que não são “nem de direita, nem de esquerda”. Esse jogo é bem sucedido no filme, rodado na Ilha do Mel, no Paraná, cuja beleza é ressaltada na fotografia de Luís Abramo.
 
Embora haja altos e baixos, especialmente em alguns momentos um tanto ingênuos, em Paixões recorrentes, a discussão política nunca perde o interesse. O filme parece não poupar ninguém, desde aqueles e aquelas atualmente no poder até aqueles e aquelas que já passaram por ele.
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