“Mais um documentário sobre Maria Bethânia?”, perguntarão os mais céticos. A resposta é sim, e não deve ser o último. Só no século presente, esse é o quarto filme exclusivamente sobre ela – fora aqueles do qual ela participa seja declamando poemas ou em imagens de arquivo – e ainda parece haver muito assunto a se explorar.
Maria – Ninguém sabe quem eu sou, do jornalista Carlos Jardim, é, declaradamente, um filme de fã para fã. Consiste em pouco mais de 90 minutos de Bethânia sentada numa cadeira no palco do teatro do Hotel Copacabana Palace dando uma longa entrevista que aparece entrecortada com cenas de arquivo – tanto de shows quanto de depoimentos.
Não há exatamente declarações contundentes ou novidades, mas, não deixa de ser um apanhado da artista sobre sua vida e carreira, além de sua visão de arte e Brasil. É sabido que Bethânia é avessa a entrevistas, são raras, e só nisso já há um ganho, mas, no fundo, como ela mesma diz, sua arte fala por ela mesma, e estar no palco – descalça em respeito ao próprio palco – cantando já é um ato político.
Apesar da estrutura simples, o formato um tanto televisivo, e sem muita ambição estética e de questões de som e iluminação, Maria – Ninguém sabe quem eu sou tem seu público cativo: os fãs e as fãs da cantora de 76 anos, dona de uma presença marcante e uma voz inesquecível, que do alto de sua sabedoria ilumina a cultura basileira.